No discurso que proferiu no Mosteiro dos Jerónimos, de homenagem à memória do antigo Presidente da República, António Costa, depois de recordar a “profunda ligação pessoal, política e profissional” que o ligava a Jorge Sampaio, mencionou algumas das qualidades pessoais que em sua opinião eram património do ex-Chefe de Estado destacando, nomeadamente, o seu “rigor ético, a sua sobriedade e honradez e simpatia pessoal” para além de uma constante “empatia humana”, sobretudo em relação às pessoas “mais desfavorecidas, excluídas ou esquecidas”, nunca deixando de estar “atento e vigilante” em defesa dos valores da democracia. Uma postura e uma atitude cívica que assumia, como reforçou António Costa, sempre “com autenticidade e com a seriedade que punha em tudo o que fazia”.
Por este e por muitos outros motivos, mencionou o primeiro-ministro, a democracia portuguesa “pode e deve orgulhar-se por ter sido servida por um político maior como Jorge Sampaio” e a República, como também acrescentou, “deve louvar-se por ter sido presidida por um cidadão exemplar como ele”.
Sobre uma das afirmações deixadas por Jorge Sampaio no Parlamento no dia em que foi empossado no primeiro mandato como Chefe de Estado, quando defendeu de forma veemente que em nenhuma circunstância pode haver em Portugal “portugueses dispensáveis”, o primeiro-ministro lê esta declaração como procedendo de alguém que sempre “valorizou as pessoas, a coesão nacional e a inclusão social”, garantindo que esta é uma das muitas certezas que estavam “profundamente enraizadas” nas convicções políticas e sociais do antigo Presidente da República, sustentando António Costa que o país “também não pode dispensar o legado deixado por Jorge Sampaio”.
O primeiro-ministro recordou, depois, algumas das iniciativas lideradas por Jorge Sampaio, muitas delas, como destacou, que fazem parte da memória coletiva dos portugueses, como a luta que travou contra o regime da ditadura de Salazar, liderando o movimento associativo na crise académica em 1962, mas também, mais recentemente, a iniciativa que liderou na criação da Plataforma Global para os Estudantes Sírios e em muitas outras diligências que protagonizou no exercício dos altos cargos políticos que desempenhou após o 25 de Abril de 1974, quer como Secretário-geral do PS, deputado na Assembleia da República ou presidente da Câmara Municipal de Lisboa, quer como Presidente da República, entre 1996 e 2006.
Sendo um político “muito exigente” não só com os outros, “mas sobretudo consigo mesmo”, Jorge Sampaio era também, como lembrou António Costa, alguém que “adorava o debate intelectual, aberto a novas ideias e às mudanças dos tempos”, um homem “culto, informado e um político com princípios, generoso e inspirador”, um democrata, como acrescentou, “sempre fiel à sua própria conceção de uma democracia de cidadania, de participação e de progresso”, nunca cedendo “nos valores essenciais”, mas sabendo sempre “construir pacientemente os apoios necessários para promover e obter os consensos”.
O Secretário-geral do PS e primeiro-ministro referiu-se também ao que considerou terem sido as obras marcantes e os “traços de ação política” deixados por Jorge Sampaio, quer na Câmara Municipal de Lisboa, entre 1989 e 1995, quer na Presidência da República, entre 1996 e 2006, não deixando de lado a sua própria relação pessoal com o antigo Chefe de Estado, lembrando aqui ter sido seu estagiário na advocacia, mas também “colaborador próximo no PS”, diretor da sua primeira campanha presidencial e membro de três governos quando Jorge Sampaio era Presidente da Republica, momentos em que António Costa diz ter testemunhado a “combinação única da exaustiva ponderação com a sua capacidade de decisão fulgurante que surpreendia”.
Um exemplo que vai perdurar
Também o presidente da Assembleia da República e segunda figura do Estado, Eduardo Ferro Rodrigues, enalteceu o caráter pessoal e político de Jorge Sampaio, recordou o amigo que “escolheu colocar as suas qualidades ao serviço de causas que certamente vão perdurar e inspirar muitas gerações”, mas também, e sobretudo, um “grande ser humano e um dos melhores servidores da causa pública da sua geração”.
Se este é um momento de dor e de tristeza, referiu ainda Eduardo Ferro Rodrigues, este tem de ser também o momento para lembrar “quão afortunado foi Portugal por ter tido em Jorge Sampaio um dos seus cidadãos mais ilustres, e que é desde há muito, por direito próprio, uma referência política do Portugal democrático”, um socialista dos “valores humanitários e da justiça social”.