A atual fórmula governativa pode e deve ser repetida
Em véspera do 22º Congresso Nacional do PS, que terá lugar no concelho da Batalha, distrito de Leiria, amanhã e no próximo fim de semana, Augusto Santos Silva, em entrevista à Lusa, depois de defender que a atual solução de Governo pode e deve ser de novo equacionada, é perentório a advertir que não vislumbra qualquer possibilidade de um entendimento com o PSD de Rui Rio, nomeadamente, como salienta, em matéria orçamental.
Segundo Santos Silva, repetir na próxima legislatura a receita que levou a que fosse possível avançar com um Governo do PS apoiado parlamentarmente pelos partidos à sua esquerda é não só possível, como aconselhável, sobretudo, como aludiu, se “olharmos para os resultados alcançados por este Executivo”, liderado pelo primeiro-ministro, António Costa, “que são amplamente positivos”, quer para o país, “quer para os partidos da maioria parlamentar”.
Contudo, Santos Silva não tem dúvidas de que não será possível repetir na próxima legislatura um acordo com BE, PCP e PEV em torno de um programa semelhante ao que viabilizou o atual Governo, “nem tão pouco com os mesmos compromissos”, assinalando, contudo, que “há ainda muita coisa a fazer em Portugal”.
“Salvo qualquer mudança que não antecipo”, acrescentou o dirigente socialista, esta solução governativa “tem todas as condições para ser renovada, no sentido de ser repetida”, manifestando a sua absoluta discordância de que esta solução governativa seja um mero “expediente” como alguém a classificou.
Com efeito, e segundo o também ministro dos Negócios Estrangeiros, quando se pretende classificar esta solução política como um “expediente”, o que de facto se está a fazer e a dizer, defendeu, é “desvalorizar uma solução política engenhosa”, que permitiu, como sustentou, não só garantir “estabilidade política ao país”, como uma verdadeira alternativa de sucesso à governação da direita.
Para Santos Silva a alterativa possível à solução encontrada pelo PS com os partidos à sua esquerda, em 2015, era viabilizar um Governo da direita, já que PSD e CDS, como lembrou, “não tinham maioria absoluta”, o que para o dirigente socialista “seria um erro político crasso”, que teria impedido que o PS tivesse formado um Governo “tipicamente de centro-esquerda e europeísta”.
Acordos difíceis
Já quanto à eventual possibilidade de poder haver acordos globais com o PSD, designadamente nas esferas económicas e financeiras, o dirigente socialista considera essa possibilidade muito remota e “muito pouco provável”, apesar de reconhecer que este partido da direita, com a nova liderança, tem demonstrado “uma maior proximidade” em matérias de política externa.
Segundo Augusto Santos Silva, para se ter uma ideia da enorme dificuldade que existe para que possa haver na área orçamental um eventual acordo entre um Governo do PS e o PSD, basta recordar, como frisou, as exigências colocadas por Rui Rio, designadamente “atualização salarial acima da inflação, mais contratação de funcionários, défice mais baixo e carga fiscal mais reduzida”.
Quatro pontos que, na opinião do dirigente socialista, quando são exigidas ao mesmo tempo, significam “mais dívida, mais défice e interrupção da trajetória de consolidação orçamental”, garantindo que, ao contrário do que é sugerido por certas correntes de opinião, as diferenças em matérias políticas, económicas e sociais entre o PS e a direita “são muitas e profundas”.
Diferenças que Augusto Santos Silva também reconhece que existem entre o PS, BE, PCP e Verdes, designadamente em relação à política externa e à Europa, considerando-as “como naturais”, sendo por isso, como referiu, que estas áreas “foram afastadas das posições conjuntas” para a formação do atual Governo.
Quanto à possibilidade de o PS poder vir a obter uma maioria absoluta nas legislativas de 2019, e se esse cenário se concretizar se altera a possibilidade de um novo acordo de incidência parlamentar com os partidos à esquerda, Augusto Santos Silva é claro quando afirma que “uma maioria absoluta não significa poder absoluto” e que qualquer que seja a dimensão da vitória do PS, em 2019, o partido “já disse, por mais de uma vez, que a atual fórmula de governação pode e deve ser repetida”.
Para Augusto Santos Silva, contudo, seria um “erro grave” que o PS viesse a abandonar o seu posicionamento de partido de centro-esquerda, optando por se tornar um partido de “esquerda pura e dura”, sustentando que o PS é “um partido da esquerda democrática”, designação que, em sua opinião, “é equivalente à expressão centro-esquerda”.