home

A agenda secreta da direita

A agenda secreta da direita

Ana Catarina Mendes

Na chicana parlamentar carregada de desespero e azedume que a direita tem cultivado desde que, com ganhos óbvios para o país e para os cidadãos, passou para a oposição, o episódio em torno de SMS e da comissão parlamentar de inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos é exemplar quanto à irresponsabilidade que reina por aquelas bandas.

Depois do seu Governo ter deixado o sistema financeiro português transformado numa verdadeira bomba-relógio prestes a explodir nas mão dos portugueses, situação que o Governo do PS, numa verdadeira missão de “relojoeiro”, tem vindo, passo a passo, a corrigir, já se percebeu que nada deterá a nossa direita na sua amargura e na sanha de vingar a sua passagem à oposição. Nem a sustentabilidade e a defesa do prestígio e do futuro viável da CGD a detêm na sua política de “terra queimada”. Aliás, é a mesma prática irresponsável que se tem observado na sua atitude em relação aos juros da dívida pública.

Chegámos à triste situação de ter uma oposição que celebra as más notícias e se perturba até ao desespero com as boas, como as que chegam com a redução do défice até aos valores mínimos já registados na história da Democracia portuguesa, com a criação de empregos (mais de 100 mil em 2016) e a redução do desemprego, com um crescimento económico acima de todas as previsões (ainda que não totalmente satisfatório). É por isso que na comissão parlamentar de Finanças, esta semana, quando o ministro Mário Centeno revelou que o défice público de 2016 não superou os 2,1%, os deputados do PSD e do PP passaram as várias horas seguintes a falar de SMS trocadas entre o ministro e o ex-presidente da CGD… Revelador.

É esta a direita que temos. O que verdadeiramente incomoda Passos Coelho e os seus (dia sim, dia não) aliados do PP é que a cada dia que passa fica mais claro que, ao contrário do que sempre nos venderam nos últimos anos, há um outro caminho para sair da crise, um caminho que não passa pelo empobrecimento das famílias, que não passa pela retirada de rendimentos e de direitos, que não passa pela austeridade cega. E é este caminho – o tal que era “aritmeticamente impossível” – que tem tido sucesso onde a direita falhou clamorosamente.

Assumamos as coisas como elas são. A irresponsabilidade perante o futuro da CGD revelada pelo PSD na sua ânsia pela “luta na lama” tem apenas um motivo: Passos Coelho e o PSD são verdadeiramente contra a existência de um grande banco cem por cento público, embora o não queiram, hoje, assumir publicamente (nos idos de 2011, Passos Coelho descaiu-se e disse-o).

O mesmo fenómeno se registou no recente caso da sua votação sobre a medida da TSU, inserida no acordo de concertação social para o aumento do salário mínimo. A verdadeira razão foi só uma: o PSD era (e é) contra o aumento do salário mínimo nacional, que contraria toda a lógica de empobrecimento que a direita neo-liberal defende e praticou no Governo. A ideia de devolução de rendimentos como forma de estimular o consumo e, por essa via, a economia, deixa Passos Coelho com os nervos em franja.

Seria bastante mais útil o PSD e a direita assumirem a sua agenda com clareza, dessa forma, o combate político seria esclarecedor: o PS e os partidos com quem celebrou acordos são a favor de uma CGD 100% pública. A direita não. O PS e os partidos com quem celebrou acordos eram e são a favor do aumento do salário mínimo. A direita não. Claro como a água.

Esse sim, seria um combate político que valeria a pena travar e que seria clarificador na sociedade portuguesa. Esse é o combate para o qual o PS está preparado e o combate para o qual está disponível e que travará com entusiasmo. Com os valores que o diferenciam, aceitando os argumentos diferentes dos seus e discutindo-os com elevação.

In Expresso

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Comment moderation is enabled. Your comment may take some time to appear.