E, na verdade, a União Europeia enfrenta hoje desafios que parecem colocar à distância do impossível qualquer saída airosa. Um nível de desigualdade social que muitos cidadãos vivem quotidianamente como um insulto à sua dignidade pessoal; décadas de proliferação das teorias do Estado mínimo, colocando em causa serviços públicos essenciais que são, para muitas pessoas, a face visível e relevante do Estado; instituições democráticas minadas pela extrema-direita, que vê o seu trabalho facilitado pelos outros fatores elencados neste parágrafo; uma globalização que, se teve efeitos positivos, também produziu massivamente novos perdedores, a favor de poderes corporativos multinacionais que minam a capacidade de implementar decisões democráticas na esfera dos Estados-nação. E, envolvendo tudo, uma União Europeia que não tem sabido ser um ator global com autonomia estratégica, acabando por cair numa incapacidade profunda para agir decisivamente na questão existencial da guerra e da paz.
Seria desajustado esperar milagres deste ou daquele Presidente do Conselho Europeu. António Costa trabalhará rodeado por uma multidão de agentes políticos onde falta a muitos a visão do mundo e o humanismo daquele que foi líder deste nosso Partido Socialista – e isso não facilitará a sua tarefa. Confiamos, mesmo assim, que a sua racionalidade política, a sua preparação e experiência, os grandes valores que sempre o orientaram na vida pública e o seu europeísmo sem dogma, deem, por sua mão, uma oportunidade à Europa de avançar um pouco mais em direção à prosperidade partilhada, esse ideal europeu que tantas vezes fica na fila de espera.