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ANTÓNIO GUTERRES

ANTÓNIO GUTERRES

No dia em que celebrava o 106 aniversário da implantação da República, Portugal recebeu a boa notícia: António Guterres foi eleito Secretário-geral das Nações Unidas. O significado desta vitória ultrapassa largamente as fronteiras do nosso pensar. É a vitória de quem luta por um mundo mais solidário, decente e justo.

Opinião de:

ANTÓNIO GUTERRES

  

É a vitória do mérito, o que representa uma novidade e um passo gigantesco no habitual processo de seleção; é a vitória da diplomacia portuguesa que, sem alarido, agiu com competência, determinação  e eficiência; é a vitória de Portugal que, compreendendo as potencialidades do candidato e o quanto o seu prestígio e projeção internacional beneficiavam o país, se uniu, dentro e fora de portas, para o êxito da candidatura; é a vitória das Nações Unidas que, pela primeira vez, escolheram o seu Secretário-geral com abertura e transparência e souberam resistir às tradicionais manobras de bastidores.  E é a vitória da defesa dos direitos humanos, da atenção aos mais necessitados, de uma visão humanista dos grandes problemas globais: a crise dos refugiados, os conflitos armados, as carências básicas de milhões de pessoas, sem acesso a água potável, alimentação, saúde, educação… 

A partir da terceira votação, a minha convicção de que a vitória era possível consolidou-se. Conhecendo as excecionais qualidades de António Guterres, a sua visão do mundo, o seu percurso e reconhecimento internacional, o notável desempenho como Alto Comissário para os Refugiados (por exemplo, redução de custos de funcionamento para dispor de mais recursos para a ajuda humanitária e promoção do equilíbrio de género), nunca duvidei de que ele era o melhor para a função, “a pessoa certa no lugar certo”.  “O melhor de todos nós”, assim o definiu Marcelo Rebelo de Sousa que o conhece desde a adolescência. 

Mesmo quando os mais entendidos nos meandros destes processos travavam o entusiasmo dos crédulos, acenando com um cardápio de possíveis armadilhas, continuei a acreditar na vitória. Talvez por ingenuidade, talvez por otimismo, recusava-me a acreditar que a ONU pudesse contemporizar com uma fraude perante o juízo escrutinador dos cidadãos de todo o mundo. Seria um golpe fatal na sua já frágil credibilidade.

As expetativas em relação a António Guterres são enormes. O que é um risco, porque uma pessoa pode mudar muito, mas não pode mudar tudo.  Sei que ele vai fazer a diferença. Sei que não vai ter condições para fazer muito do que gostaria. Mas sei, convictamente, que o que ele não conseguir, nenhum outro (ou outra) conseguiria. Pessoalmente, espero que ele ajude a derrubar os novos muros do egoísmo e da intolerância com que os Viktor Orban deste mundo nos querem dividir, que continue a lutar pela paz e a defender os mais desvalidos.

Conheci António Guterres em 1980, ano em que aderi ao PS, onde ele já era um proeminente dirigente.  Fiz parte das suas equipas quando foi líder parlamentar do PS e, depois, Secretário-geral do PS. Não fiz parte do seu governo porque estava comprometida com o concelho de Sintra. Tenho o privilégio de contar com a sua amizade. 

Ontem chorei de emoção. Lágrimas de alegria. Purificadoras.

Parabéns, António. Boa sorte.