home

Presidente da República causa estupefação na imprensa internacional

Presidente da República causa estupefação na imprensa internacional

A interpretação de Cavaco Silva sobre os diferentes graus de legitimidade política e constitucional dos partidos representados na democracia parlamentar portuguesa continua a causar perplexidade na forma como o nosso país é visto de fora. A ideia de que alguns partidos, democraticamente mandatados pelo voto dos portugueses, podem ser excluídos de soluções de Governo no nosso país, é recebida com estupefação nas análises que diversos jornais europeus e internacionais dedicam à situação política em Portugal.
Novos conselheiros tomam hoje posse

Num artigo de opinião no site da revista francesa Marianne, o economista Jacques Sapir salienta que “uma maioria dos eleitores portugueses votou contra as medidas de austeridade”, para desmontar, como falsa, a ideia de que a coligação de direita tenha ganho as eleições.

Sapir faz notar que o Presidente da República “não tem o poder de interpretar as intenções futuras para se opor à vontade dos eleitores”. Neste sentido, defende que uma decisão para recusar uma alternativa de Governo suportada por uma maioria parlamentar de esquerda “assemelha-se a um ato inconstitucional, um ‘golpe de Estado’”.

Para Romaric Godin, em artigo publicado em La Tribune, o Presidente da República está a dar a mão à sua família política. “Ao fazer da moção de rejeição um voto por ou contra o euro, o inquilino do Palácio de Belém tenta dar à direita a maioria que as urnas não lhe deram”. E este jogo, “a médio prazo, parece muito perigoso”, afirma.

Ambrose Evans-Pritchard, editor internacional do britânico The Daily Telegraph, é particularmente corrosivo: “O sr. Cavaco Silva está realmente a usar o cargo para impor uma agenda política reacionária, no interesse dos credores e do establishment da zona euro e travestindo tudo isto, com assinalável descaramento, como defesa da democracia”.

Evans-Pritchard nota que “os conservadores portugueses e os seus media comportam-se como se a esquerda não tivesse direito legítimo a assumir o poder e devesse ser mantida ao largo por todos os meios. Estes reflexos são conhecidos – e arrepiantes – para qualquer pessoa familiarizada com a história ibérica do século XX, ou da América Latina”.

Em outro artigo no mesmo jornal, Mehreen Khan destaca que, “ironicamente, muitos observadores notam que a aliança de esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi pintado pelo presidente Cavaco Silva”.

A autora afirma ainda que a crise política que está ser criada em Portugal “tem profundas consequências para a democracia no resto da zona euro”, como o demonstra a reação nervosa do presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, ao comentar que “não gosta” do que vê.

Já no norte-americano Huffington Post, Daniel Marans, destaca que “o dilema colocado na ordem do dia em Portugal mostra como as imposições económicas da zona euro minam o empenhamento na democracia”.

E cita as palavras do politólogo português António Costa Pinto: “o presidente não pode excluir da democracia portuguesa dois partidos que representam um milhão de eleitores e 20 por cento do eleitorado português”.