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O que está em causa

O que está em causa

A gente percorre as redes sociais e ele são fontes luminosas, gulags, josés estalines, vascos gonçalves e muralhas de aço, falta ainda aparecer o argumento definitivo das criancinhas comidas ao pequeno-almoço... É grotesco e, não sei se percebem, o grau zero de argumentação racional que esse exercício constitui.
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Talvez não tenham reparado, mas o Muro de Berlim caiu há 26 anos, a União Soviética desapareceu há 24 e é hoje apenas uma vaga memória. Ah, e os Estados Unidos e Cuba retomaram as relações diplomáticas!

Se quiserem, e nisso farão bem, discutam POLÍTICA. É disso que se trata.

O que está em causa nos próximos quatro anos em Portugal não é saber se Portugal abandona a NATO, se desiste dos seus compromissos internacionais assumidos como Estado ou se voltamos a nacionalizar bancos, companhias de seguro ou até barbeiros.

É evidente que Portugal continuará membro da NATO, será fiel a todos os seus compromissos internacionais, e respeitará princípios como o da propriedade privada – de acordo com o que foi sempre a linha do PS, que deu sempre a cara por isso, mesmo quando foi difícil fazê-lo e muitos dos que hoje invocam a Fonte Luminosa (sem lá terem estado!) se borravam de medo.

Mas, o que está em causa no futuro imediato de Portugal é saber se queremos mais do mesmo ou se queremos virar de vez esta página negra da austeridade sobre austeridade, que foi mesmo orgulhosamente para além da troica, se queremos prosseguir na via do empobrecimento como solução para os nossos males ou se queremos um caminho de crescimento económico e de criação de emprego, com rigor, assente na aposta no conhecimento, na Ciência e na Inovação.

O que está em causa é se queremos estar na Europa com uma voz própria e fazendo alianças com parceiros que compartilhem dos nossos problemas e pensamentos ou se queremos continuar apenas alunos bem comportadinhos, deixando que os outros decidam por nós.

Há, portanto, dois caminhos.

Deve o PS viabilizar o governo da direita para que tudo continue mais ou menos na mesma, até que a direita decida ir para eleições no momento mais conveniente para ela?

Ou deve o PS tentar liderar uma solução de governo que aposte no outro caminho (que era e é, afinal, o seu programa), com as forças políticas que estejam disponíveis para tal?

Ambas as soluções têm legitimidade política, depois da eleição de 4 de Outubro e da composição do Parlamento que dele resultou. Recorde-se, aliás, para alguns mais “esquecidos” e ainda à falta dos resultados dos círculos da emigração: PSD – 86 deputados, PS – 85, BE – 19, CDS – 18, PCP – 15, PEV – 2, PAN- 1.

Cabe à direita, em primeira instância, conseguir uma solução de governabilidade, com certeza. O PS reconhece-o e o seu Secretário-geral tem-no dito desde a noite das eleições até agora.

Mas, caso a direita não consiga alcançar essas garantias, essa possibilidade deve ser dada ao PS. E o PS será capaz, começa hoje a perceber-se (mesmo para alguns descrentes de ontem), de gerar consensos e construir uma solução de governabilidade em torno de um programa de governo, onde não constará, tenho a certeza, nem o abandono da NATO, nem a criação de gulags, nem a introdução de criancinhas nas ementas dos pequenos-almoços, nem mesmo o incumprimento das suas obrigações internacionais.

É disso que se trata neste momento em Portugal.

É, pois, comovente o “carinho” com que alguma direita se tem preocupado com as opções do PS. Mas o PS fará o seu caminho. Com coragem, como sempre, colocando sempre o que considera ser o interesse dos portugueses, sobretudo dos mais desfavorecidos e dos que mais sofrem, acima de todas as conveniências partidárias conjunturais. É esse o seu mandato.