Uma das prioridades do Movimento foi a independência das então colónias portuguesas. A questão colonial de tal modo se identificava com a questão do governo que a sua solução não era compatível com a manutenção deste. Só a queda do regime permitiu solucionar a questão colonial.
Lembro que, em 1973, a Guiné declarara, unilateralmente, a sua independência, que foi reconhecida pela comunidade internacional.
Em 1975, as restantes colónias tornaram-se países independentes, o que constituiu uma das mais importantes consequências do 25 de Abril, juntamente com o fim da guerra colonial, que durara 13 longos anos.
Assistiu-se também ao movimento da chegada de centenas de milhares de cidadãos, designados injustamente por «retornados», pois muitos deles já tinham nascido naqueles territórios.
Muitos chegaram despojados de praticamente tudo, mas com as suas competências e determinação deram um importante contributo ao desenvolvimento e à modernização do nosso país.
Nos territórios do que fora o vasto Império Português ficou a Língua, a Cultura, a Religião, muitas tradições, base da criação da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) onde, esperemos, futuras gerações se possam reencontrar e construir projetos comuns.
Sobre a Democracia e a sua aliada Liberdade, apraz-me trazer à memória três jovens estudantes universitárias, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, que, em maio de 1971, (há precisamente 50 anos) ousaram desafiar a ditadura e decidiram escrever um livro a que chamaram «Novas Cartas Portuguesas».
O livro de cartas, poemas, relatórios, textos narrativos, aborda temas proibidos na altura, censurados, assuntos-tabu durante o Estado Novo tais como a guerra colonial, a repressão do regime, o estatuto social e legal de subordinação das mulheres, o adultério, o aborto…
A obra, editada pelos Estúdios Cor onde trabalhava a poetisa Natália Correia, foi censurada dias após o lançamento e as autoras perseguidas, acusadas pelo Estado Português de terem escrito um livro pornográfico. A Censura (lápis azul) determinou, e cito: «Contém passagens chocantes, por imorais, constituindo ofensa aos costumes e à moral vigente e que preconiza sempre a emancipação da Mulher, em todos os seus aspetos. Que se proíba a circulação do livro, enviando-o para a Polícia Judiciária para efeitos de processo-crime.»
E assim aconteceu.
Seguiu-se a perseguição política das autoras e a proibição da venda do livro.
A situação criou no país e no estrangeiro uma grande onda de condenação do regime Português e de apoio e solidariedade às escritoras.
Estávamos em plena Primavera Marcelista, uma primavera a modos que envergonhada, tímida, de pouca luz e sem flores e que se arrastou sem conseguir vingar do tão longo e penoso inverno de onde vinha.
Em 1973, as três Marias entraram no Tribunal da Boa-Hora para a primeira audiência do seu julgamento, bastante divulgado na altura, que indignou e mobilizou movimentos feministas e a opinião pública internacional.
No dia 7 de maio de 1974, já em plena Liberdade, terminava o processo judicial movido a propósito de um dos primeiros livros pela causa feminista no nosso país com a absolvição das três Marias, suas autoras, três jovens mulheres que, corajosamente, contribuíram para a caminhada que tem sido feita até aos dias de hoje, pela igualdade de género, em todas as circunstâncias sociais, culturais, laborais e económicas.
São três nomes a lembrar da construção de um Portugal Moderno, Democrático e Livre!
50 anos depois, presto-lhes aqui o meu agradecimento, na convicção de que a Democracia tal como a Liberdade são tarefas permanentes, nunca terminadas.
Bom 25 de Abril!