VICENTE JORGE SILVA
Tínhamos combinado um encontro para o início de setembro, depois da “silly season” e acordado repetir, cinco anos depois, a entrevista que o Vicente e a Maria Elisa fizeram em 2015 a António Costa e que foi publicada nos primeiro e segundo números do Ação Socialista Digital (ASD). Entrevista que esteve prevista para a edição do quinto aniversário do jornal e que a pandemia obrigou a adiar. Quando, no início do ano, lhe fiz a proposta, o Vicente aderiu de imediato à ideia mas, com a frontalidade e o sentido de humor que o caraterizavam, perguntou-me se tinha lido os seus artigos de opinião sobre o primeiro-ministro e o Governo. “Muito críticos, Edite!”, advertiu-me. Era assim o Vicente. Frontal, rigoroso, exigente. Muito especial.
Há coisas que não se explicam. Sentem-se. Pensam-se. Acontecem. Ao receber a notícia da morte do Vicente Jorge Silva, sem perceber porquê, pensei no meu saudoso amigo Miguel Torga. Desconheço se alguma vez se encontraram e que opinião tinham um do outro. Nunca isso foi referido nas nossas conversas. Porquê então esta inesperada associação das duas personalidades? Talvez porque, no dicionário da vida de um e do outro, encontro afinidades pessoais que muito admiro. Genialidade a rimar com frontalidade. Exigência com decência. Ética a rimar com estética. Liberdade, sempre presente. Como Miguel Torga na Literatura, também Vicente Jorge conquistou o seu lugar cimeiro na Imprensa Portuguesa. Ou porque no poema “Sísifo” do autor transmontano revejo o que me parecem ser marcas distintivas do singular jornalista madeirense: “Recomeça…/se puderes/ sem angústia/ e sem pressa. /E os passos que deres,/ nesse caminho duro/ do futuro/ dá-os em liberdade./ Enquanto não alcances/ não descanses./ de nenhum fruto queiras só metade./ (…) És homem, não te esqueças!/ Só é tua a loucura/ Onde, com lucidez, te reconheças”.
A equipa do ASD lamenta a morte de Vicente Jorge Silva e endereça as mais sentidas condolências à sua família e amigos.
Obrigada, Vicente, e até sempre.