Valls

A política de Hollande, vista de fora, foi péssima. Porém, uma análise mais cuidada diz-nos que há enorme injustiça na sua apreciação, uma ausência de aprovação que só se liga à falta de empatia, à ausência de aura, à existência de equívocos e descuidos. 

A esquerda francesa está cheia de candidatos. É habitual. Sempre assim foi, porque sempre se revelou em imensos movimentos, em particulares opções vanguardistas.  É por isso que não me inquieta o esforço de Mélenchon, a espreita de Ségolene, o idelalismo de Montebourg ou virtuosismo de Marcon.

Para além destes, que são os que mais fazem valer a comunicação, há ainda originários dos movimentos verdes ou dos velhos militantes trotskistas. 

Mas falemos de forma ponderada, com um olhar dos franceses para si próprios. 

Nenhum homem de esquerda se revelou presença histórica sem uma dimensão de autoridade, sem uma presença de poder individual, sem a assunção da leitura imperial da velha França. 

É por isso que a direita francesa se assume em Fillon, é por isso que partes das direitas, frações das esquerdas e quotas de descamisados contra a globalização e plenos de medo engrossam as fileiras encantatórias de Marine. 

Valls é um social democrata, um cidadão do mundo, um profundo conhecedor do que a França foi e é hoje. Valls é o único socialista sem medo de assumir a dimensão anti-popular do poder, atitude que não remunera no imediato, mas trás imensas vantagens a médio termo.

Olho para Valls e para a sua coragem e encontro Mário Soares em 1985. De percentagens insonsas em sondagens se sagra vencedor. Em comparação e nos dias de hoje, Valls vale mais e tem a mesma vontade de não entregar o ouro ao bandido. 

A esquerda francesa só tem um candidato que pode derrotar Le Pen, e esse é o primeiro-ministro que soube dar segurança ao território francês quando ele foi violentamente atacado. Valls é segurança. E no tempo que corre esse é capital imenso.