União monetária ainda enfrenta riscos e problemas
A menos de semana e meia de deixar a vice-presidência do Banco Central Europeu (BCE), o que acontecerá já no próximo dia 31 de maio, Vítor Constâncio alertou num seminário, organizado pelo BCE em sua homenagem, sobre o futuro dos bancos centrais que “é necessário dar um salto quantitativo” na criação de uma união “genuína do mercado de capitais”.
Um alerta que se justifica, como realçou, porque a união monetária não só não foi ainda completada, como, por isso mesmo, ainda enfrenta um conjunto de “riscos e de ameaças”, salientando que um eventual colapso da união monetária teria efeitos devastadores em “todos os países”.
Segundo o ainda vice-presidente do BCE, para que haja uma sólida união monetária é preciso, antes de tudo, que as instituições nacionais e europeias assegurem um “desenvolvimento económico e financeiro coeso”, de forma a evitarem “desequilíbrios excessivos, fragmentação financeira e a persistência significativa de riscos de redenominação para os Estados membros”.
Reformas necessárias
De entre as reformas apontadas por Vítor Constâncio, como necessárias para que a união monetária se possa afirmar sólida e viável, está em primeiro lugar, como referiu, a aceitação do “dever” do BCE de intervir nos mercados de dívida soberana, para além ainda, como acrescentou, da criação de uma “função” de estabilidade orçamental, para a “gestão macroeconómica”, e a criação de um “fundo de estabilidade”.
Ainda segundo Vítor Constâncio, e pegando na tese defendida também pelo primeiro-ministro, António Costa, é necessário avançar, o quanto antes, com a conclusão da união bancária e potenciar a cooperação para acelerar o processo da união dos mercados de capitais, além de se ter também, como referiu, que avançar para a melhoria da “regulação orçamental” para disciplinar as “políticas orçamentais nacionais”.
Que ninguém tenha dúvidas, assegurou Vítor Constâncio, citando um economista norte-americano, que se o euro colapsasse isso seria “a mãe de todas as crises financeiras”, insistindo que é do interesse de todos os países que se criem claras e objetivas condições institucionais que impeçam que tal cenário se verifique, sublinhando que deixar que as crises se desenvolvam, para só “à última da hora” intervir “sob coação”, é uma receita que indubitavelmente acarreta maiores custos.
Depois de ouvir os muitos elogios que o presidente do BCE, Mario Draghi, lhe dirigiu, agradecendo o seu trabalho na instituição e sublinhando que a sua contribuição foi “inestimável no terreno rochoso” em que os bancos e os seus líderes tiveram que se mover nos últimos anos, e de enaltecer a sua “honestidade intelectual e rigor técnico” e o “instintivo desapego pelo dogmatismo”, Vítor Constâncio teve ainda oportunidade de lembrar que, em sua opinião, o caminho que ainda falta percorrer, sendo absolutamente necessário, não é, contudo, como garantiu, “difícil de implementar tecnicamente”.