Um renovar de forças urgente
Há um país que é informado diariamente pela linha da agência Lusa, mesmo que nos últimos anos isso tenha sido conseguido num cenário de profundos constrangimentos a que a agência foi sujeita. Sofrendo de alguma anemia interna a Lusa viu encolher as suas redações de Lisboa e Porto e mingar a rede de correspondentes internacionais e nacionais, com óbvio prejuízo para as comunidades lusófonas e para os habitantes das regiões interiores do país que deixam de ser representadas no panorama mediático. E perante um setor já de si frágil, a Cultura, a agência nacional optou por deixar de ter editoria autónoma.
Esta foi a agência Lusa que o Partido Socialista recebeu quando tomou posse, resultado de anos de instabilidade estratégica e financeira dos governos de Passos Coelho onde as reduções orçamentais drásticas acabaram por sufocar a vida interna da agência condicionando a cobertura jornalística a fazer, levando à redução de quadros de jornalistas, à inoperância dos equipamentos, à desadequação da estrutura organizativa.
Passados dois anos, a agência Lusa tem uma estratégia clara e definida, plasmada no contrato de prestação de serviços noticiosos celebrado com o Estado, tem recursos financeiros suficientes concretizado numa indemnização compensatória 20,3% maior do que tinha em 2015 –e vai ter a partir do próximo mês uma nova liderança capaz de fazer face aos novos desafios que se avizinham.
Os objetivos estratégicos da agência Lusa são revistos plurianualmente e plasmados com a assinatura de um Contrato de Prestação de Serviço Noticioso e Informativo de Interesse Público. Recebida uma Lusa depauperada de meios financeiros e recursos humanos, com cortes que chegaram aos 30% do valor da indemnização compensatória prevista no biénio 2013-2015, este Governo, definiu em 2016 um novo contrato com a agência com um valor de indemnização compensatória que cresceu 20,3% em relação ao triénio anterior, garantindo agora um orçamento anual de 15,8ME.
Mas dizer que assegurado o financiamento público se resolvem todos os desafios com que a Lusa se defronta, seria um ato de alguma ingenuidade.
O papel das agências tem vindo a mudar significativamente ao longo dos últimos 40 anos. Das suas 3 principais características: conteúdos informativos de rigor jornalístico, rapidez na reação e difusão instantânea e massiva, duas já não lhe pertencem. A internet mudou a noção de atualidade das noticias, oferecendo um fluxo constante de informação com atualizações quase instantâneas. E por isso as agências quer como produtores quer como distribuidores de notícias estão em processo de reinterpretação. A somar a isto, todos sabemos que o ecossistema dos media vive uma crise para a qual ainda não encontrou saída. Os clientes da Lusa, que ironicamente também são em alguns dos seus casos, seus acionistas, vivem hoje num momento em que lhes faltam assinaturas e anunciantes. Portanto a Lusa necessita definir o seu futuro e redefinir os seus clientes. E para isso são precisas lideranças fortes e apostas estratégicas.
O contrato assinado por este Governo, não foi, ao contrário do que era habitual nos últimos anos, um mero proforma. A revisão do contrato foi feita tendo como palavra chave a “independência editorial” sublinhada por conceitos de rigor, autonomia e credibilidade, e sublinhando preocupações essenciais.
1) Uma preocupação em garantir a cobertura noticiosa do território nacional, das comunidades falantes de língua portuguesa e das geografias com interesse estratégico nacional.
2) Uma preocupação com os clientes. Funcionando hoje a Lusa num mercado mais exigente onde as expectativas dos seus clientes, relativamente à prestação do serviço público, requerem produtos diversos para distribuição nas plataformas digitais, é necessário assegurar conteúdos informativos aos órgãos de comunicação social tradicionais, mas também possibilitar a sua integração nas plataformas multimédia e redes sociais.
3) Uma preocupação em garantir uma organização e estrutura da agência mais flexível, que permita sustentar uma rede nacional noticiosa e paralelamente sejam assumidas parcerias que permitam cobertura informativas regionais e locais assumindo-se a Lusa como uma peça fundamental para a coesão social.
A definição do plano estratégico em 2016 e a assinatura do contrato de concessão de serviço público permitiram desde logo que a Lusa iniciasse um processo de atualização de equipamentos fundamentais para a sua atividade e visse alargada a entrada no quadro a 11 profissionais, num caso excecional de discriminação positiva em toda a administração pública.
E por fim a liderança. Terminado o mandato de Teresa Marques, atual administradora da agência Lusa, é necessário incutir um novo ímpeto e dinâmica ao cumprimento do contrato de concessão.
Nicolau Santos é o senhor que se segue. Dono de uma intensa, competente e imparcial carreira jornalística, a Lusa vê-se neste momento detentora de todos os elementos necessários para assegurar o regular funcionamento da agência, reforçar-se para novos desafios e ao mesmo tempo garantir o cumprimento das suas primeiras e últimas funções: preservar os valores jornalísticos, o serviço público noticioso e prosseguir um caminho de credibilidade.