Um orçamento “costista”
As notícias sobre o Orçamento de Estado para 2016 parecem ter saído desses dois objetivos. Por um lado, a carta da Comissão, habitual e até insonsa, veio fazer valer uma espécie de “fim do mundo”. Durante dias foi apresentada como fim de linha, como uma sentença final perante um cenário que se afigura difícil.
Por outro, as posições de uma das agências de rating, que indicam a possibilidade de uma alteração de notação, caso o orçamento se venha a revelar inconsistente. Nas leituras internas saíram a lume opiniões muito radicalizadas, mais para consumo de claque do que destinadas aos ouvidos dos notadores.
Estas duas circunstâncias não devem fazer esquecer a prudência e sageza com que o Ministro da Finanças e o Primeiro-Ministro reagiram.
À Comissão Europeia será remetida a sustentação de cada uma das medidas, a opção por uma linha afirmada e legitimada de recuperação de rendimentos sem negar a consolidação e a contenção. Depois, partindo de uma base mais sustentada que essa resposta comporta, nascerá a linha de carga que sustentará a heterogeneização das relações com notadores e lhes dará confiança.
Poderia ter sido definida uma estratégia alternativa? Claro que poderia. Em situações normais o Governo teria colocado, por si, todas as questões, teria descoberto antecipadamente as fragilidades, teria preparado a opinião pública.
Acontece que as eleições presidenciais vieram limitar as optações de comunicação, as linhas de ocupação do espaço mediático. Não deveria ser o Governo a inserir na campanha para PR um debate concorrente, fazendo com que os candidatos se centrassem num campo que não era, não é, da sua responsabilidade e competência.
A situação política que vivemos é, naturalmente, mais irrigada na leitura das preferências políticas e ideológicas. Os partidos à esquerda do PS querem fazer valer o seu peso, uma vez que não consagraram a vantagem de se sentar no Conselho de Ministros. Os partidos à direita, negando a sua capacidade de criar alternativas de discurso, assentam a estratégia nas ajudas que de fora aportam. São mais do mesmo, usando o argumentário recusado de uma necessária atenção ao bom comportamento, ao eterno bom aluno.
Depois do Orçamento, o Governo vai ter que começar a governar mais para o país no terreno. E é nessa altura que interessa voltar a reponderar à leitura comunicacional, à resposta aos vários países que existem dentro do país. E como as presidenciais voltaram a comprovar, assistimos a uma cada vez mais acentuada partição territorial das escolhas de voto. O PS sempre foi o agente que soube derrubar essa partição e deve, por isso, assumir a frontalidade de uma banda mais larga.