Um Governo que cumpre
Verifico, por vezes, que essa desconfiança se reveste também de relativa surpresa por estas medidas (que no seu conjunto configuram políticas) estarem a ser aprovadas.
Em particular, a oposição a este Governo tem sido profícua na crítica a medidas que – segundo os próprios – não têm uma linha estratégica, não obedecem a um programa estruturado, mas antes a uma espécie de fixação que o Governo alegadamente desenvolve, ao insistir na revogação, na reposição ou reversão de medidas aprovadas pelo anterior Governo, e que isto, além do embaraço, lhes causa alguma surpresa.
Bem vistas as coisas, até se percebe. Quem ganhou eleições a prometer alhos e depois aprovou bugalhos, quem se alavancou eleitoralmente prometendo baixar impostos e depois os aumentou, quem falou em crescimento e depois desenvolveu a psicopatia do corte e do empobrecimento, nesta altura só pode estar surpreendido.
Isto porque, depois de se ter oposto durante 4 anos ao tour em que nos insistiram em inscrever pela miséria, pelo aumento da dívida e do desemprego, pela emigração forçada, pelo desrespeito total aos cidadãos, em suma, pelo empobrecimento generalizado, chegado ao Governo, o PS fez diferente. Fez diferente em quê? Tão só começar a cumprir um programa eleitoral que transformou em programa de governo após as eleições.
Ao protagonizar uma alternativa às políticas seguidas nos últimos 4 anos em Portugal, defendendo o aumento do rendimento das famílias, bem como a criação de condições para o investimento das empresas, como uma das chaves para o crescimento económico e consequente criação de emprego, o PS conseguiu formar um Governo com apoio parlamentar.
Assim, é perfeitamente natural que medidas como a extinção progressiva da sobretaxa sobre o IRS, a eliminação dos cortes salariais, a reposição gradual dos salários da função pública, a redução progressiva e temporária da taxa contributiva dos trabalhadores e a atualização das pensões estejam no topo das prioridades deste Governo.
Repor os feriados nacionais foi também um dos sinais que o Governo deu de que os seus compromissos são para cumprir e não apenas para figurar em papeis que se distribuem na campanha eleitoral e que perdem a validade assim que se chega ao poder.
Então, entender-se-ia como normal – e, portanto, não causador de surpresa – que imediatamente a seguir a uma campanha em que sucessivamente se defendeu a não privatização da TAP ou a reversão das concessões dos transportes públicos, o Governo se resumisse a dizer que iria estudar dossiês, refugiando-se no habitual business as usual praticado pela anterior coligação? É evidente que – isso sim – seria motivo de surpresa e, a meu ver, de alarme.
O que estamos a assistir não deveria causar surpresa a ninguém.
Um Governo que governa, respeitando os seus compromissos, cumprindo o seu programa.