Um abandono social
As fortes crises políticas nascem destas situações de abandono social, de distanciamento entre governantes e governados. Atualmente o nosso país enfrenta um importante desafio ao nível do emprego. Em Portugal desde 2011, a população em idade ativa vem diminuindo (devido à forte vaga de emigração de muitos trabalhadores qualificados) e vem aumentando quer a precariedade do emprego quer o desemprego de longa duração. Os dados do INE indicam que, nos últimos três anos, o desemprego de longa duração ampliou acentuadamente, sendo que em 2014, segundo o INE, o peso do desemprego de longa duração no total do desemprego estimou-se próximo dos 70%, ou seja uma proporção verdadeiramente recorde. E a verdade é que uma análise à evolução do desemprego de longa duração não pode ser alheia às diversas alterações ao Código do Trabalho ocorridas desde 2011 no sentido de flexibilizar o regime dos despedimentos, contribuindo para o aumento da destruição de emprego.
Ora, o aumento do desemprego de longa duração inquieta tanto mais que é, frequentemente, apresentado como o sinónimo de um abandono quase definitivo do mundo do trabalho, remetendo muitas pessoas de meia-idade a uma “inatividade forçada”. Para lá da enorme injustiça humana e social este significa a perda de um relevante capital humano para o desenvolvimento do país.
Se cresce a apreensão com o facto de a economia se estar a tornar profundamente desigual – sendo que o aumento de riqueza não segue acompanhado de equidade, penalizando de forma crescente a maioria das famílias da denominada “classe média” – e o país vive um sentido de “abandono social” que, a prazo, minará a coesão social, necessitamos de tornar a economia mais inclusiva mediante uma regulação laboral que promova equidade social e que defenda o emprego, em particular travando a destruição de emprego permanente e o aumento da pobreza, afinal as principais causas da desigualdades sociais.