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Trump – a surpresa os eurocêntricos

Trump – a surpresa os eurocêntricos

Em julho passado, num post inserto no Twitter, escrevi o seguinte – Os olhares europeus não colocam a hipótese de Trump ser presidente. Estarei cego. Eu acho que isso é a cada dia mais provável.

Opinião de:

Trump – a surpresa os eurocêntricos

De imediato choveram os habituais cometários maldosos, as desatenções que têm sempre resposta no bloqueio. 

Miguel Monjardino veio, em setembro, desenvolver esse pensamento, já com novos dados, contemplando, por certo, uma visão ampla dos eleitores norte-americanos. Porém, Bernardo Pires de Lima acha hoje que ninguém se sentiria confortável, com a informação que foi tendo, para vislumbrar este resultado final. Coisas de especialistas em relações internacionais que eu não sou…

Importa que diga, aqui e hoje, o que me levou a considerar a possibilidade de uma vitória de Trump. 

O meu circulo eleitoral, em especial o Alto Tâmega, é origem de milhares de emigrantes que rumaram aos EUA. Estes emigrantes de primeira e segunda gerações são, por norma, conservadores na reverencia nacional, mas também votam, maioritariamente, nos democratas. Os filhos, da terceira e quarta gerações, já não se afirmaram na opção inicial e, alguns deles, assumem relevantes cargos na “chapa” do Grand Old Party.

Os que passam uma parte do ano em Portugal, muitos ainda, foram maioritariamente apoiantes de Clinton, Gore, Kerry e Obrama. Obama já teve menos apoio que os anteriores. E este fenómeno levou a que me interessasse por antecipar, no contacto com estes nossos emigrantes, o que poderia acontecer. 

Três razões se afirmaram nos argumentos. Primeira, Hillary não é integrada no sonho americano, não se ocupa de apostar nos que subiram pulso, que são práticos nas opções. Ela assumiu, nos últimos anos, uma espécie de representante dos interesses, uma candidata abençoada que antes de o ser já o era. Segunda, os norte-americanos, democratas ou republicanos, não são simpatizantes de um Estado forte, presente em tudo, cada vez mais afirmado. Talvez por isso, muitos democratas estiveram e estão contra as reformas na saúde que Obama impulsionou.  Terceira, Trump é um monstro para nós europeus, mas não o é para a generalidade dos americanos. Ele simboliza o sucesso, o ganhar e perder, o desassombro, a representação de cada uma das pequenas batalhas que os inúmeros grupos vão assumindo. 

A pergunta que fazia sempre, tendo em conta a surpresa das respostas que ia recebendo, era se Sanders não ganharia a Trump com mais facilidade. A resposta foi quase unanime – Bernie era um candidato de uma parte do Partido Democrata, muito mobilizada internamente, mas com pouca representação exterior. Perderia, por muitos mais, contra Trump, diziam-me.

Fui questionando a propósito da inexistência de um candidato mais cordato no lado republicano. A resposta era sempre a mesma – Trump é um vencedor porque é, também, quem está mais liberto dos interesses internos da “direita” estadunidense. 

A comunicação social norte-americana barrou Trump em toda a linha. Só a FOX, nos últimos meses, se agregou. A imprensa europeia tem uma leitura muito desfocada, quase unicamente nova-iorquina, da política do país do Tio Sam, a esquerda e a direita do velho continente odeiam os arrivistas, mesmo que Trump, por berço e formação, o não seja, mas pareça ser. 

É por isso que ficamos todos com uma sensação de enorme de derrota. Para nós Trump não podia ganhar. Mas Trump ganhou. Há que regressar ao pragmatismo da diplomacia para que a velha Europa não fique sozinha no canto da sala deixando os USA, a Rússia e a China a jogar o tabuleiro do futuro mundial. E Portugal tem muitos dossiers que importa voltar a colocar – as Lages, o TTIP, o nosso papel na NATO… O governo deve acelerar.