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TALANOA

TALANOA

Milhares de delegados, cientistas e ativistas, centenas de ministros de mais de 200 países, presidentes, primeiros-ministros e comissários europeus não conseguiram evitar que a cimeira do clima, realizada em Bona, terminasse com poucos resultados e muita deceção, já que o objetivo de estabelecer as regras para a concretização do Acordo de Paris não foi totalmente atingido. Quando a realidade exigia ambição e urgência, os decisores tentaram travar, adiar e regredir.

Opinião de:

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Os países ricos chegaram à COP 23 de mãos vazias e os países em desenvolvimento saíram sem o apoio financeiro para se adaptarem às alterações climáticas, não obstante o secretário-geral da ONU ter pedido mais ambição e mais liderança na luta contra o aquecimento global. Afirmando que o tempo urge, António Guterres  lembrou os senhores do mundo que, para conter o aumento da temperatura do planeta nos 1,5 graus celsius acima dos valores médios da época pré-industrial, é urgente reduzir muito as emissões de gases de estufa.

O presidente dos Estados Unidos (o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa) já havia denunciado unilateralmente o Acordo de Paris. As críticas choveram então e agora na Cimeira de Bona, onde governadores e autarcas americanos se demarcaram da posição de Trump e reafirmaram o seu empenho na redução das emissões de CO2, deixando isolada a administração Trump. Outros países houve, todavia, que tentaram recuar em relação aos compromissos de Paris. Os chamados “Países em Desenvolvimento com a Mesma Visão” – China, Índia, Cuba, Arábia Saudita, Venezuela, Bolívia e Nicarágua – não querem respeitar o denominado “diálogo facilitador” (Talanoa, em fiji) previsto no Acordo de Paris. O comissário europeu Miguel Arias Canete criticou as “nações que não tinham colocado qualquer objeção nem durante a preparação desta cimeira nem durante a mesma”, e que só levantaram problemas na reta final, porque não querem que haja referência ao objetivo dos 1,5ºC no diálogo, nem considerar o relatório científico do IPCC sobre os impactos de uma subida da temperatura desta magnitude”. Felizmente, em posição oposta estão os países que formam a “Coligação para a Grande Ambição”, que concordam com mais ambição no combate às alterações climáticas,

Apesar das evidências e dos alertas da comunidade científica, o combate às alterações climáticas não sai das boas intenções e dos discursos politicamente corretos. A temperatura média global continua a subir. Este ano registaram-se as mais elevadas temperaturas e os mais baixos níveis de humidade. E houve muitas e variadas catástrofes por todo o lado. Furacões no Atlântico, tufões no Pacífico, incêndios florestais em Portugal, Espanha e na Califórnia e, recentemente, também em Itália. A maior parte do território português encontra-se em seca extrema ou severa. Na Grécia, as primeiras chuvas provocaram grandes inundações.  Não por acaso, a COP 23, inicialmente agendada para as ilhas Fiji, foi realizada na Alemanha, por coincidir com a época de ciclones.

Vamos ver o que acontece em Paris no próximo mês de dezembro para crer que haja bom senso e “talanoa” até à próxima Cimeira, em dezembro de 2018, em Katowice, na Polónia.