“É a primeira vez em muito tempo que se quebra um compromisso histórico de reconduzir o governador do Banco de Portugal, garantindo a sua independência, a sua isenção”, disse José Luís Carneiro aos jornalistas, sublinhando que a não recondução de Centeno representa “uma decisão negativa”, porque “se viu colocar em causa o seu mérito, a sua competência, o seu prestígio e o seu estatuto internacional”.
Para o líder socialista, a decisão agora conhecida teve um claro fundamento político e não técnico.
“Com certeza que é uma decisão estritamente política, porque se fosse técnica, de competência, de mérito e de prestígio, o professor Mário Centeno ficaria na função, uma vez que é dos mais competentes entre todos os seus pares europeus”, enfatizou, frisando que o até agora governador “é uma das personalidades que mais prestígio tem no sistema de bancos europeu”.
O líder socialista nota ainda um padrão na ação do Governo de “pôr em causa o bom nome” das pessoas para não as reconduzir ou até mesmo demitir do cargo. No caso de Mário Centeno, o executivo de Montenegro pediu uma auditoria à Inspeção Geral das Finanças (IGF) nos últimos dias ao processo de construção do novo edifício do Banco de Portugal.
José Luís Carneiro diz que “não se compreende como se tomou esta decisão de pedir à IGF que conduza uma inspeção” e a acrescentou que “espera que não se venha a desenvolver este padrão” de pôr em causa dirigentes.
E relembra ainda a substituição da ex-provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge.
“Assumir uma opção e depois procurar encontrar matérias para colocar em causa o bom nome das pessoas que serviram a instituição, não é adequado. É imoral”, concluiu o líder socialista.
Mário Centeno, recorde-se, desempenhava funções como governador do Banco de Portugal desde 2020. Antes, destacara-se como ministro das Finanças nos dois primeiros governos socialistas liderados por António Costa.
A sua gestão das Finanças ficou marcada por uma recuperação sustentada das contas públicas, com o equilíbrio orçamental atingido pela primeira vez em democracia, uma redução expressiva da dívida pública e o fim do Procedimento por Défice Excessivo.
O desempenho governativo de Mário Centeno valeu-lhe amplo reconhecimento nacional e internacional, tendo presidido ao Eurogrupo entre 2018 e 2020.