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Somos todos social-democratas

Somos todos social-democratas

O Dr. Pedro Passos Coelho, candidato a líder do seu partido, depois de cinco anos em que se afirmou e praticou feroz liberal, reconhecendo que o centro político dele fugia, anuncia agora que regressa ao que chama social-democracia. Pretende, provavelmente, um banho lustral de civilização e decência depois das injúrias e sevícias graves que infligiu aos eleitores. Influenciado por Marcelo, a quem depois de ter apodado de catavento político, vai agora, com unção, seguir pisadas.

Opinião de:

Somos todos social-democratas

O que significa que a sua campanha se iniciará com uma cerimónia noturna de lançar à fogueira os inúmeros exemplares que restam nas caves do PSD do seu livrinho de 2010 “Mudar”. No calor dessa fogueira, o seu verbo teatral mas seguro, prometerá reverter nacionalizações de empresas essenciais à economia, desmanteladas ou vendidas a preço nominal; construir o Hospital de Todos os Santos e deixar incólume a maior e melhor maternidade do País; cortar as subvenções ao ensino privado redundante do público em áreas de cobertura assegurada; reduzir as subvenções ao terceiro sector, mais de 250 milhões, para pagar o assistencialismo privado à custa da ação social pública; que devolverá com retroativos, os cortes no abono de família, no subsídio social de inserção e no complemento solidário para idosos; desembaraçar carreiras e promoções e devolver as horas extraordinárias ao pessoal da administração pública sobretudo em serviços essenciais como a saúde; readmitir os que se reformaram no pavor de virem a perder mais do que esperavam; reduzir os impostos, a começar pelo IVA da restauração e a acabar no IRS e nos seus perversos escalões. Como afirma nada ter a ver com a alta finança e os administradores das grandes empresas, não só aumentará o IRC, como criará um imposto especial para todos os salários acima do de Presidente da República. Finalmente, na linha justiceira que o levou a pôr os ministros a viajar em turística, acabará com as senhas de refeição, os cartões de crédito e os automóveis a administradores e diretores de empresas públicas, sejam SA sejam EPE, tal como fez o novo dono da PT na empresa que o seu liberal desimporte lhe ofereceu.

Não. Não é necessário. O que deva ser já estará realizado pelo atual governo, quando o Dr. Pedro Passos Coelho for reeleito líder do PSD. E o que não for executado é porque o não devia ser. Descanse, pois Dr. Passos Coelho, não se sangre em saúde. A social-democracia ou socialismo democrático nunca foi de excessos, de golpes de rins, de juras com perjúrio. Será cumprida com justiça, sem vindictas, com o tempo necessário para nada abalar da frágil economia que nos legou. Frágil pela dieta forçada, sem remédios outros que a redução drástica do poder de compra. Reduziu importações, que admiração! Mas emagreceu o consumo de bens e serviços essenciais de produção nacional, o investimento, o produto, agravou a dívida e mascarou o défice com medidas extraordinárias, reversíveis para dentro e estruturais para Bruxelas. Uma gestão sincronizada com o eleitoralismo, com anúncios de devolução da sobretaxa a engodaram eleitores, para depois os defraudar. Não, Dr. Passos Coelho, o senhor já não é coelho que se tire da cartola. O senhor tem que pedalar muito, comer várias rasas de sal, executar muitos mortais de costas para que os seus eleitores de 2011 voltem a acreditar em si.