Serviço Público
Como sempre acontece, estes valores não são absolutos nem todos os funcionários os sentem da mesma maneira. De um modo geral podemos afirmar que a nossa administração tem uma pitada de cada uma destas componentes. O conjunto é hoje aceitável. E porquê hoje? Porque foi necessário passar quase cinco anos de maus tratos para se mudar a perceção geral. De monstro passou a vítima. Hoje sabe-se que a administração está longe de ter entre nós um peso excessivo na economia, que afinal, os privilégios salariais tém a ver com mais elevado nível de formação, que a administração é mais inoperante e lenta quando o poder político a pretende substituir por outra coisa mal amanhada (veja-se o CITIUS) que a administração já não tem qualquer poder, quanto mais o de se perpetuar e finalmente, quando o governo substitui a lealdade pela fidelidade, mal vão as coisas. As diatribes do consulado de Passos Coelho, em matéria de probidade, não impediram o caso dos vistos gold, encapsulados na fidelidade partidária e no amiguismo, a independência foi ultrapassada pela nomeação de súbditos ideológicos, cuja utilidade se perverteu na metamorfose em varejeiras de redes sociais para propaganda contra a Oposição. Todavia, competência profissional e sentido do interesse público, derradeiros valores republicanos, parece terem sobrevivido ao Passismo.
A grande questão pode residir na escolha dos dirigentes. O Passismo inventou a CRESAP, cópia manhosa da Civil Service Commission, dos britânicos. Manhosa, por ter sido mal estudada, executada às três pancadas e finalmente manipulada para, com capa de imparcialidade, confirmar a mais cínica das parcialidades, a que supostamente se baseia na objectividade. Felizmente há hoje muita gente para contar o que se passou. Existem dezenas ou centenas de dirigentes qualificados que ficaram sempre nas listas curtas e muitas vezes nos segundos e terceiros lugares, desalojados da escolha que mereciam, apenas pelo facto de as nomeações em regime de substituição constituirem critério à frente de tudo, conferindo experiência de chefia que só os já escolhidos pelo canal partidário poderiam exibir. O método foi o mais lento de todos os anteriores, ao ponto de terem ficado encalhadas dezenas de nomeações de devotos do Passismo. O problema só não foi mais grave por o anterior governo ter substituído o pessoal dirigente por janízaros da corte. Espera-se que as marcas não tenham ficado, por muito acocorados que se encontrem agora os fieis do passismo a ver se passam despercebidos.
Aqui chegados, temos um novo e grave problema. O actual governo não pode demitir os sátrapas do passismo, sem legislar. O Governo não quer legislar, com medo do crescimento da orgânica. Vai ter que se servir de pessoal a quem a experiência da nomeação transitória não conferiu nem competência, nem sentido de serviço público, nem muito menos imparcialidade. Que está de tocaia à espera do D. Sebastião Passos que regressará em manhã de nevoeiro. E se é certo que as manhãs de nevoeiro deste ano estão a acabar, não é garantida a conversão dos fieis passistas em costistas de casaca virada. A menos que se prefira uma nova classe de dirigentes, com um novo atributo, a camuflagem.
Não tenhamos ilusões, o assunto dos dirigentes terá que ser encarado. Para bom serviço público, a Adminstração Pública carece de novo fôlego e os seus servidores de melhor sorte. Voltaremos ao tema, em próxima oportunidade.