Será um funeral ou uma bifurcação?
O PSD está em banho-maria, resultado da incapacidade estratégica da sua direção e da ausência de futuro do seu líder.
O resultado eleitoral de outubro passado surpreendeu o aparelho laranja. Em primeiro lugar, porque sempre teve para si que o mundo havia estacionado numa visão redutora da governabilidade; em segundo lugar, porque o sentimento de justiça, ou injustiça, sentido e absorvido pelos partidos, cristaliza as escolhas para o futuro, impede uma nova leitura do mundo, quase que se revela saudade. Os portugueses já não remuneram a saudade, em especial a que se afigura demasiado penosa e desmotivadora.
Por outro lado, o partido que vai o congresso é outro, bem diferente de todos os que até aqui se ouviram. Marcelo não animará porque se fez presidente; Santana não animará, porque se fez provedor; Barroso não animará, porque se fez desnecessidade; Mendes não animará, porque se fez comentador; Menezes não animará, porque se fez fantasma; Cavaco não animará, porque se fez má memória.
Em boa verdade, os congressos assumem sempre o lugar de Fernando Costa, antigo edil das Caldas da Rainha, sucessor do imaginário que por ali existe. Mas mesmo esse, agora empenhado na governação do concelho de Loures, parece não estar em forma.
Passos Coelho terá um palco com uma coreografia impecável. Marco António e Matos Rosa acetarão as luzes, conformarão os aplausos. Só não haverá ideias, só não haverá esperança.
Muitos analistas fazem a leitura simples a que muitos dão o nome de – lugar do morto. Assim, Passos Coelho espera até ao dia em que o atual governo tropece. O problema é que o tempo de informação que vivemos, o lugar de consumo imediato em que habitamos, a velocidade com que nos habituaram a saciar as nossas gulas, não lhe dão futuro que se veja, que se entenda.
Em tudo isto também joga o CDS. Mais ágil taticamente, mais expedito no ponto de vista do pragmatismo do poder, a nova líder avança para se por à prova. E essa prova só pode ser uma candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. É aqui que tudo está em causa. Na cabeça de Pedro Passos e do seu universo já não estará a liderança do governo, estará sim uma candidatura à edilidade da capital que se afirme, a prazo, como uma rampa de lançamento para Belém.
Tudo isto, toda esta nossa análise, pode ser desfocada e até assumir uma adjetivação alucinada. Mas em todo o caso o cenário deve ser colocado e medido. Teremos assim um congresso que pode aclamar e obrigar a um caminho para a urgência de um outro poder – as autárquicas de 2017.