Sentimento de urgência
Independentemente da posição que tem vindo a ser assumida pelo Governo grego, concordemos ou não com as suas propostas e com a sua atitude, é inaceitável assistirmos à tentativa de branqueamento do que aconteceu nos países sob assistência financeira, em particular, em Portugal, onde se apresentam os resultados do programa de assistência financeira como um caso de sucesso. O expoente máximo desta encenação foi a figura muito infeliz da ministra das Finanças portuguesa numa conferência de imprensa ao lado do ministro das Finanças alemão, a servir de cobaia e simultaneamente a procurar, deliberadamente, enfraquecer a posição negocial do Governo grego que estava ativamente a questionar as políticas e os resultados alcançados e a pedir mudanças.
Os recentes dados do crescimento económico português vêm confirmar que ele decorre, essencialmente, dos estímulos dados à procura interna, fruto das decisões do Tribunal Constitucional, pondo em causa toda a teoria do ajustamento defendida pelo Governo português e pela troica. A recuperação do consumo gerou um aumento nas importações e deteriorou a nossa balança comercial. Este caminho só permite a melhoria do saldo dessa balança se continuar a promover o empobrecimento do país. O Governo não tem nenhum resultado para mostrar, não há nenhuma mudança no perfil da economia e não ficou nenhuma reforma digna desse nome. Portugal ganhou níveis de desemprego estrutural, de emigração, de desigualdade que serão muito difíceis de corrigir nos próximos anos.
Não vejo, ao contrário de outros socialistas, as posições do Governo Grego como preocupantes. Independentemente do sucesso que podem ou não vir a ter, a verdade é que estão a remar contra a maré da austeridade. Entendo que neste momento deveríamos pegar em outra pá e remar também. Teremos posições que nos dividem mas neste momento, e neste contexto, elas não são motivo para nos fazer perder um minuto a discutir isso. A necessidade de mudar de políticas, e de conquistar uma margem para o país, deveria ser uma posição patriótica, que unisse todas as forças políticas do nosso país.
Não nos podemos resignar a um futuro de ajustamentos lentos, de recuperações frouxas que tenham de conviver com níveis de desemprego, níveis de desigualdade, níveis de pobreza e pobreza infantil inaceitáveis, ou do caos nos serviços públicos, na saúde e na educação, com consequências irreparáveis para as vítimas da crise.
Os portugueses estão muito apreensivos e desconfiados. Olham para o PS com esperança mas não sentem que estejamos mobilizados e empenhados como a urgência determina. Há todo um caminho a percorrer nestes próximos meses. Temos de recuperar o espírito das primárias e temos de convencer os portugueses que somos os protagonistas da mudança e da alternativa que é necessária. Todos que foram atropelados pela crise mas também os empresários, os funcionários públicos, as instituições sociais, as organizações e os movimentos de cidadãos necessitam da liderança e da confiança do PS e do António Costa.