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Saving Europe (together)

Saving Europe (together)

Sob auspício deste ambicioso slogan, o Partido Socialista Europeu (PES) promoveu recentemente em Praga a sua reunião-magna entre congressos. Com uma energia bastante baixa (a social democracia europeia já viveu dias mais felizes) foi evidente que o fenómeno político mais interessante a ocorrer hoje no seio da nossa família europeia é o da geringonça lusitana.

Opinião de:

Saving Europe (together)

E, de facto, com tantas más notícias (as últimas de Itália e França) foram muitos os camaradas que me questionaram, com manifesta inveja, sobre o estado da experiência lusitana (tida como dos poucos governos de esquerda), e como se a conseguiu montar. Inevitavelmente, respondia que bem, que temos tranquilamente demonstrado que não só é possível inverter o mantra da austeridade (e devolver direitos e qualidade de vida aos cidadãos), como iniciar o tão desejado processo de busca de uma alternativa a TINA. Sobre o processo da geringonça, tenho para mim que o essencial foi acumular de anos de projetos de convergências à esquerda (referendo sobre a IVG, MPI, congresso das alternativas, etc.), que possibilitaram a sedimentação de um importante acervo político, e que se desenhassem estratégias comuns, por um lado, enquanto por outro permitiram que um conjunto alargado de quadros se conhecessem e construíssem mecanismos de trabalho de consequências práticas (e não apenas teórico-conceptuais).

Assim, quando em outubro passado surgiu a possibilidade de agregar a esquerda em torno de um projeto de governo alternativo, muitos dos que nas semanas seguintes se sentaram à mesa de negociações já se conheciam e concordavam com as linhas gerais da alternativa. Percebi que este fenómeno era estranho para muitos camaradas europeus, demasiado habituados a viverem e socializarem na exclusividade dos seus aparelhos ou redes políticas demasiado datadas. Isto sem referir a importância da qualidade e caraterísticas do (nosso) líder.

Do ponto de vista do PES, o que mais me chamou a atenção em Praga foi a consolidação do ativismo cativo e progressista em torno da Rainbow Rose (e PES activists). Através destas estruturas parece que finalmente se conseguiu transportar para o nível europeu a exigência da defesa pública do conjunto de valores que validam e legitimam os ideais e legado da social democracia europeia, sem que se obedeça ao “politicamente correto” ou à etiqueta da macro diplomacia (vide comportamento do SPD alemão). É bem evidente hoje que estes valores são colocados em causa não somente pela direita como por partidos com assento nas instâncias do PES, como o SMER (eslovaco), partido-irmão liderado por uma personagem que tem acumulado um conjunto de declarações xenófobas e homofóbicas bem próximas da narrativa ultranacionalista do senhor Orban. Assim, com orgulho me associei ao protesto que a Rainbow Rose (e PES activists) organizaram contra a presença de Robert Fico em Praga, no que foi de longe o momento de maior interesse político desta reunião.

Em suma, deixará poucas memórias esta reunião. A presidência do PES parece apostar em colocar novos rótulos em velhas propostas (relançar os ativistas e apostar num processo de primárias para a escolha do Spitzenkandidaten para 2019, quando se exige mais. Muito mais. Exige-se que se assumam erros do passado (recente) e que se desenvolva uma nova atitude para o futuro. A família socialista europeia necessita de deixar de se apropriar de slogans fáceis (“Saving Europe”, talvez de nos próprios) e de se recentrar, politica e socialmente. Em voltar a ser significativa, em ser facilmente identificável como defensora das minorias, do Estado Social e de um conjunto de alternativas políticas à austeridade. E uma vez que me parece difícil que se exporte o nosso líder, talvez pensar numa forma de desenhar uma Geringonça Europeia seja um bom inicio.