Reta final
Não tem outro programa que o que apresentou em Bruxelas, onde se propõe extorquir, em quatro anos, mais 2,4 milhares de milhões aos pensionistas do Estado e da Segurança Social, afundando as suas exauridas capacidades. Não tem outro argumentário que o de ter exigido sacrifícios para repor o que os socialistas estragaram. Reescreve uma história que omite a grave crise internacional de 2008 e anos seguintes e as instruções de Bruxelas para não só se não deixar cair nenhum banco – daí a nacionalização do BPN, rebentado pelo coio de vigaristas conotados com o PSD que nele se instalara – como sobretudo para aumentar investimento e consumo para prevenir deflação e recessão graves. Não tem outro palco que não seja o de um mau teatro de revista com palhaço rico e palhaço pobre, cada um coçando as costas do outro: um canta, outro inventa piadas de baixo gosto, um, mente com prosápia, o outro, insulta sem regra.
Pela primeira vez na história da democracia lusa, o poder instituído congrega quase todos os poderes: o audiovisual, o de comentador (três ex-líderes partidários do PSD como comentadores regulares) e o de usar o Estado para nesta reta final maquilhar todo o mal anterior: contratar mais professores, contratar mais turmas com o privado, pagar a médicos reformados para regressarem ao serviço, pagar mais cirurgias ao privado, comprar equipamentos há muito necessários e longamente negados.
Este poder legitimamente instaurado em 2011 vai agora perder a legitimidade pelas tropelias que praticou, mais as que escondeu e sobretudo as que mistifica. O Povo costuma bem entender os saltimbancos de feira: concede-lhes um sorriso condescendente, mas sabe que logo à tarde a barraca se desfaz e os palhaços partem para nova feira. Têm o seu papel, mas só esse, o de saltimbancos da política, o de ilusionistas do passado e o de maus pagadores de promessas futuras.