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Reinventar Portugal?

Reinventar Portugal?

Reinventar Portugal lembra-me “make Portugal great again” e não gosto. Parece significar que a invenção prévia do país falhou, o que não é verdade.

Opinião de:

Reinventar Portugal?

Portugal é um país com qualidades intrínsecas à sua natureza, cultura e geografia que lhe imprimem uma marca identitária invejável e que fazem dele um lugar particularmente favorável para se viver. 

O Retrato de Portugal na Europa, com indicadores estatísticos em várias áreas, publicado pela Pordata, mostra-nos que estamos a iniciar 2018 no meio da tabela na maioria das áreas, no topo noutras e entre os últimos noutras ainda, tal como acontece a muitos outros países europeus. Apesar de tudo, longíssimo dos dolorosos indicadores de desenvolvimento económicos e sociais de 1974, que obrigaram Portugal a um esforço hercúleo de modernização e de coesão.  

Mas o mais importante nestes rastreios periódicos é a leitura clara de que, ao seu ritmo, o país tem vindo paulatinamente a subir nos índices de poder de compra, no valor do salário mínimo, na remuneração média por conta de outrem, na legislação para a igualdade de género, nas competências na Educação, no conforto das famílias, no combate às assimetrias.

O número de publicações científicas portuguesas triplicou na última década, somos um dos países mais seguros do mundo, a nossa tradição multicultural centenária assegura-nos laços afetivos com dois terços do planeta e um papel reconhecido na diplomacia internacional. No desporto temos dado muitas alegrias aos portugueses espalhados pelo mundo e unido povos e vozes desavindas sob a camisola do CR7 ou da Seleção Nacional de Futebol. 

Claro que há muito a fazer para galgar um século de atraso em relação ao centro da Europa – Portugal entrou no século XX depauperado pela bancarrota de 1892, (cuja dívida só foi saldada em 2002), enfrentou 50 anos de isolamento salazarista, a integração de meio milhão de portugueses de África, a desintegração dos meios de produção industrial, pesqueira e agrícola, que se seguiu à entrada na UE, e, sobretudo, os baixíssimos níveis de escolaridade dos portugueses, tudo contribuindo para travar o progresso. 

Não há receitas por inventar para acelerar o sucesso económico de um país quando o boom do seu desenvolvimento, desde os anos 90 do século XX, foi conseguido com recurso à dívida fácil e incentivada. Sebastianismos après-la-lettre não. Mas temos uma matéria prima muito importante e muito lusitana: a nossa capacidade de nos adaptarmos, de aprendermos com os erros e de superarmos as crises, tal como temos vindo a fazer, com criatividade, esforço e solidariedade.

Um país com 900 anos não precisa de se reinventar, precisa apenas de ser continuamente melhorado.  Essa responsabilidade é de todos nós, temos que estar à altura dela.