“O programa da coligação suscita três perguntas: quanto, quando e como?”
Sem que estas perguntas sejam respondidas, diz o coordenador do estudo macroeconómico que está na base do programa eleitoral do PS, é impossível saber com rigor e transparência quais as verdadeiras respostas e soluções que a direita propõe para os desafios que se colocam à economia portuguesa.
A leitura das 148 páginas do programa eleitoral do PSD/CDS, escreve Mário Centeno, suscita não 29 questões como a que a direita colocou ao programa macroeconómico apresentado pelo PS, mas apenas três: quanto, quando e como?
O economista, que já tornou público que vai deixar o Banco de Portugal para se dedicar à política como independente, lamenta que os partidos da coligação de direita mantenham um silêncio “comprometedor” não respondendo quanto vão custar as medidas que propõem no seu programa eleitoral, quando pensam que as podem implementar e como as vão aplicar, sendo ainda omissos sobre qual a sua “interligação com a Administração Pública, os reguladores, as empresas e as famílias”.
As respostas a estas questões, diz Mário Centeno, requerem uma abordagem semelhante “à utilizada na construção do programa eleitoral do PS”, em que o diagnóstico “seja claro” e o propósito económico e social seja esclarecido “para se definirem as prioridades e a sequência das medidas”.
Depois de recordar que o programa eleitoral do PS, ao invés do apresentado pela coligação, “define causas, transmite confiança, estabelece princípios de rigor e transparência”, acusa a direita de criar um “hiato de rigor e de transparência” ao não apresentar “uma única quantificação” dos mecanismos que “nos permitam passar das poucas e mal definidas medidas aos resultados que são escassos e definidos sem rigor”.
Mais à frente no seu artigo, Mário Centeno lembra que nestes quatro anos Portugal perdeu 260 mil trabalhadores em idade ativa, tantos quantos saíram do país “na mais negra das décadas do regime salazarista”.
Critica o facto de o mercado de trabalho continuar a gerar empregos precários, dando o exemplo de que 90% dos que transitam entre emprego e inatividade para emprego “têm um contrato não permanente e de baixos salários”, e que a flexibilidade salarial, uma aposta forte do executivo PSD/CDS, se está a combinar de forma clara com a “flexibilidade da precariedade e a consolidar o empobrecimento do país”.