home

QUE GRANDE LIMPEZA

QUE GRANDE LIMPEZA

Quem não se lembra de o ex-governo da direita ter anunciado com pompa e circunstância a saída da troica, uma saída limpa? Estamos agora a perceber, e com que custos, o que significou essa eufemística limpeza.

Opinião de:

O desmanchar do Presépio

O ex-primeiro-ministro, o ex-vice-primeiro-ministro, a ex-ministra das Finanças, o governador do Banco de Portugal e o presidente da República anunciaram urbi et orbi que não iríamos precisar de mais ajudas, que a partir da saída da troica seríamos autossuficientes, autónomos, independentes e muitos outros adjetivos disponíveis nos dicionários. Porque eles, governo e seus apoiantes, incluindo o governador do Banco de Portugal, eram muito bons. E que nós, cidadãos, tínhamos feito muitos sacrifícios, mas que valia a pena pois reconquistáramos a soberania perdida com a vinda da troica. Graças a esses ex-governantes que se julgavam mesmo muito bons, “Portugal estava melhor”, afirmavam alto e bom som, ainda que os portugueses estivessem pior, mas por exclusiva culpa deles, portugueses, que não emigraram como lhes foi aconselhado, que perderam o emprego por não quererem trabalhar de borla, que perderam a casa por terem pedido dinheiro aos bancos, etc. Estes portugueses, que andaram a viver acima das suas possibilidades e que conduziram o país à bancarrota, em vez de estarem reconhecidos à troica e aos supercompetentes governantes, que os aliviaram de parte do salário, da pensão ou da reforma, ou mesmo do emprego ou da casa passam a vida a lamentar-se. Uns “lamechas”. Então não reconhecem o mérito do governo Passos/Portas sobretudo na área das limpezas? Vejam lá se não nos limpou bem os bolsos! Se não limpou a carteira de todos sem exceção. Bem, de todos é um exagero, com a exceção (necessária para confirmar a regra) dos banqueiros e dos ricos que, sendo unha com carne com os mercados, têm de ser bem tratados para zelarem pela boa imagem do País e garantirem as boas vontades dos especuladores, perdão, dos financiadores amigos que nos emprestaram dinheiro a baixos juros, ainda que várias vezes mais do que eles pagavam ao Banco Central Europeu que, como se sabe, não pode emprestar dinheiro aos Estados, só aos bancos que, por usa vez, emprestavam aos Estados e assim ganhavam bem a vida e podiam distribuir os prémios de gestão e os dividendos por gestores e acionistas. 

Vemos agora que a apregoada limpeza foi muito, mesmo muito suja. Os contribuintes já perceberam o logro em que caíram com essa conversa da saída limpa. Por causa da dita saída limpa, da incompetência e das mentiras do ex-governo da direita, com o patrocínio do governador do Banco de Portugal e do presidente da República, os portugueses são obrigados a pagar com língua de palmo a resolução do BES e do Banif. A tal saída limpa. E lembram-se do BPN e do BPP? Não gostariam de saber se já foram apuradas todas as responsabilidades? Em relação ao Banif, vamos ver o que a comissão parlamentar de inquérito, anunciada pelos partidos que apoiam o atual governo, nos vai revelar. Do governo da direita já os portugueses se viram livres. Do presidente da República, falta pouco. E do governador do Banco de Portugal?

Feliz 2016.