QUE FARÁ RUI RIO COM A VITÓRIA?
O primeiro-ministro, que felicitou o novo líder do PSD, disse que espera de Rui Rio uma relação “firme, exigente e construtiva com o Governo, ao serviço do país, como é essencial, em todas as democracias, haver este relacionamento entre Governo e oposição”. E acrescentou: “Cada um defendendo o seu programa, os seus pontos de vista, mas havendo entendimento nas questões fundamentais”. E disse ainda que não será difícil o entendimento com Rui Rio ser melhor do que foi com Passos. A boa relação entre Costa e Rio, cimentada no tempo em que eram autarcas, facilitará o entendimento entre PS e PSD. Não creio, porém, que o acordo de esquerda deva morrer às mãos de Rui Rio.
Os ganhos políticos e sociais, que o país tem averbado com a ‘geringonça’, reconhecidos pelo primeiro-ministro, não seriam tao notórios, quer em quantidade, quer em qualidade, com o bloco central. A política de reposição de rendimentos, que eleva o nível de vida dos portugueses, e outros avanços, mormente sociais, parecem-me mais exequíveis com a esquerda do que com a direita. Tenho dito que o bloco central é mais contranatura do que o acordo de esquerda, fundamentalmente porque o PSD é um partido de direita – a tentativa de negar esta evidência por Rui Rio não me convence – e o PS, honra lhe seja, não é! Mesmo equacionando apenas o apoio do PSD a Governo do PS, e não uma solução governativa, a ‘geringonça’ continua a merecer, largamente, a minha preferência.
O caráter progressista e humanista da política do PS, designadamente com a defesa intransigente do Estado Social, não seria, por certo, caucionável no Parlamento pelo PSD. O requiem pelo desejo manifestado por Rio em apoiar um Executivo socialista parece-me já evidente. Tratou-se de uma mera declaração de intenções, mas que, na prática, seria muito pouco verosímil. Onde é que, dando outro exemplo, o PSD dava o seu aval aos sucessivos aumentos do salário mínimo nacional? Tenho sérias dúvidas que o fizesse. O primeiro teste às reais intenções do novo líder do PSD será a posição que tomar em relação às alterações no financiamento dos partidos políticos. O PS fez muito bem ao anunciar o seu propósito de, na parte que lhe toca, confirmar a lei vetada por Marcelo. As relutâncias que se detetam na nossa sociedade ao financiamento dos partidos políticos são difíceis de aceitar e mais ainda de compreender.
As grandes empresas, que visam o lucro dos acionistas, são financiadas. Os clubes, nomeadamente os de futebol, também o são. Diria mesmo que pouco ou nada se faz, de significativo, sem financiamento do Estado, pelo que este princípio não deve ser posto em causa. Os partidos políticos, que não tem fins lucrativos nem recreativos, e que procuram o bem-estar dos cidadãos e a melhoria das suas condições de vida – atividade sem dúvida muito mais nobre – merecem, ainda, um melhor financiamento, pelo que não deve haver limite às angariações de fundos e, em matéria fiscal, as mudanças são justas. Sem partidos não há democracia. Só os falsos democratas, ou os defensores do império do lucro e do dinheiro, podem divergir do que foi exposto. Rio terá bom senso. A lei do financiamento deveria ser confirmada pelo Parlamento. A democracia e o país seriam também confirmados.