Quando a Comissão Europeia se constitui como fator de desestabilização de um Estado-membro
Com as suas declarações alarmistas e contraditórias, a garantir aos jornalistas portugueses que as medidas adicionais de austeridade – o chamado plano B – são mesmo para aplicar, o comissário Moscovici criou um pseudo-evento para ser citado pelos jornalistas e agradar ao Eurogrupo.
De facto, como revelou o correspondente da RTP em Bruxelas, as declarações do comissário Moscovici pretenderam mostrar que a Comissão está sintonizada com o Eurogrupo, dado ter surgido a ideia de que a Comissão teria sido mais branda com o orçamento português do que o Eurogrupo.
Perante o alarme e a exploração feita pelos jornalistas das palavras do comissário, a Comissão veio retratar-se afirmando que as palavras de Moscovici foram mal interpretadas (não havia tradutor na sala!) e que o que foi dito não altera as posições anteriormente estabelecidas pelas entidades europeias sobre o orçamento português. O próprio Moscovici esclareceu que nada mudou e que há confiança na capacidade do Governo português para executar o Orçamento do Estado (OE) para 2016, com respeito pelas metas.
É de uma enorme irresponsabilidade que comissários europeus usem as suas intervenções públicas para criarem pseudo-eventos e serem citados pelos media, sem se preocuparem com os efeitos negativos das suas palavras nos mercados, entidades que tanto veneram.
O comissário Moscovici mostrou que entre criar um problema a um país e a um governo, por sinal da sua “família” política, e agradar aos seus colegas do Eurogrupo que pretendem apertar o “garrote” a Portugal e criar-lhe dificuldades perante os “credores”, não hesita e opta por “calcar” um pouco mais no nosso país.
Este episódio é mais significativo do que parece. Mostra que a Comissão Europeia não respeita da mesma maneira todos os Estados-membros. Perante uma França, uma Espanha ou uma Itália, que não cumprem as metas, a Comissão é suave e “meiga”. Com Portugal e a Grécia a Comissão “engrossa a voz”, ainda que seja só para produzir efeitos e mostrar que manda.
Felizmente, António Costa salvou, também desta vez, o orgulho nacional, ao manter-se firme na confiança no orçamento do governo e na convicção de que não será necessário alterar o orçamento, sem temer desmentir o comissário nem esconder que medidas adicionais serão preparadas apenas SE e QUANDO forem necessárias, sendo sua convicção que não o serão.