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PS – partido de gente normal

PS – partido de gente normal

A comunicação política tem sempre um elemento provatório. Importa saber o auditório que se quer atingir, quem se quer fazer levantar da cadeira, contestando ou apoiando.

Opinião de:

PS - partido de gente normal

Há uns dias, a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, concedeu uma entrevista a um grande jornal de onde saiu um conceito de “gente normal” que foi motivo de inúmeras conversas. Do que me foi dado ver, terão sido muito mais os olhares oblíquos que os apoios declarados. Ora, pelo que adivinho, o objetivo foi conseguido, a entrevista provocou e marcou a agenda interna. 

Há três notas que quero deixar bem claras nesta minha leitura provocatória sobre essa “gente normal”. 

A primeira é simples: os agentes políticos, fruto de uma certa cultura endogâmica e de um dialeto muito próprio, tendem a separar-se das agendas, das necessidades e das urgências do comum dos mortais. Em muitas circunstâncias esse afastamento faz sentido, mas, na maior parte do tempo, há como que um olhar de alto para os banais problemas. 

A segunda é também simples: os diretórios partidários tendem a ser, quase em exclusivo, constituídos por políticos em dedicação total. Esta realidade, que se verifica em quase todas as democracias, existe porque é difícil conciliar a atividade profissional, fora da política, com os tempos e as premências da coisa partidária. 

A terceira é mais substantiva. Será que o Partido Socialista carece, na sua direção cimeira, de pessoas que vivam outras realidades, outras velocidades e outras urgências que não só a da política quotidiana? A minha resposta é positiva. É por isso que interessa uma reformatação do secretariado nacional do PS que comporte personalidades que não estejam no governo, no parlamento ou nas autarquias, que não tenham recebido uma nomeação para cargo público e que não promovam negócios ou intermediação entre o privado e o público. 

Mas há, para além de tudo, um critério que deve acrescer ao que motivou este curto texto – a autonomia de pensamento e a autoridade ética. Na política, nos tempos de hoje, importa olhar para o PS e saber garantir o património de quatro décadas, e interessa projetar o futuro com uma caução de que o PS é mesmo um partido nacional, moderado e transversal a toda a sociedade. O PS é mesmo o único espaço político onde todos os sectores da nossa sociedade se podem rever, o único onde sempre foi possível aí terem o seu espaço de esperança e de mobilização política todos e cada um dos portugueses. Um partido da esquerda moderada e moderna, um partido onde o primado da liberdade, da solidariedade e da justiça social é trave mestra. Mais do que a circunstância a História, mais do que o tempo de hoje a exigência de um bom e assegurado futuro.