No espaço conduzido pelo jornalista Vítor Gonçalves, José Luís Carneiro sublinhou que é neste equilíbrio que o partido assenta a sua visão para o país, defendendo uma oposição “firme, mas responsável”, à altura do mandato que os portugueses lhe confiaram.
“O Partido Socialista tem marcas e pressupostos essenciais na sua ação política e no seu compromisso com os cidadãos”, afirmou o líder do PS, destacando que “é o partido que, no quadro da democracia portuguesa, mais procura compatibilizar dois valores fundamentais — o valor da igualdade e o valor da liberdade”.
“É no equilíbrio destes dois valores” que o PS “procura apresentar a sua visão de país, de sociedade e para a economia”, vincou, explicando que o partido se posiciona como uma força política que atua com sentido de Estado, procurando “ser uma oposição firme, mas, simultaneamente, responsável, porque é aquilo que os portugueses desejam”.
“As pessoas esperam que o PS seja um partido capaz de construir e afirmar uma alternativa, sendo construtivo para defender o interesse nacional. E foi isso que tentámos fazer com o Orçamento do Estado”, pontualizou.
Questionado sobre a abstenção socialista na votação da proposta orçamental para 2026, José Luís Carneiro rejeitou totalmente a ideia de que o partido se tenha tornado uma “muleta” do Governo.
“Não, por vários motivos. Nós colocámos um conjunto de exigências ao Governo e foram exigências muito claras, conhecidas no espaço público, e o primeiro-ministro respondeu afirmativamente a essas exigências”, enfatizou, lembrando que foram obtidas garantias de que o Orçamento “não seria o suporte para alterações estruturais” em matérias sensíveis, como as leis laborais, a Lei de Bases da Saúde, a natureza pública da Segurança Social ou a política fiscal.
Oposição com responsabilidade
Apesar de reconhecer que o documento viabilizado com a abstenção socialista “não é o orçamento do PS”, José Luís Carneiro enfatizou que o partido agiu “em nome do interesse nacional”, assegurando a estabilidade política e o cumprimento das responsabilidades do Estado português, nomeadamente a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
“É do interesse do país que haja, neste momento, estabilidade, para que o Governo e o primeiro-ministro cumpram com os compromissos que assumiram — desde logo, executar o PRR, mas também responder às necessidades na habitação, na Saúde e nos rendimentos”, referiu.
E lembrou depois que dera a sua “palavra de honra aos portugueses e portuguesas” de que o PS “contribuiria para a estabilidade do país”, garantindo condições para que o executivo da AD cumpra o que prometeu.
Apesar do sentido de responsabilidade evidenciado na votação do Orçamento na generalidade, José Luís Carneiro manteve a crítica ao documento, que descreveu como “sem ambição económica e social”.
“Além de não ser o orçamento do PS, este orçamento não tem ambição para o país, não tem ambição para a coesão social e territorial”, criticou, acrescentando que “suborçamenta despesa, nomeadamente na Saúde, e empola receitas”.
Neste ponto, o líder socialista fez notar que o Conselho das Finanças Públicas veio recentemente confirmar estas preocupações, reconhecendo que o documento “padece destes problemas”.
Governo tem desempenho medíocre e o país quer soluções
José Luís Carneiro reforçou ainda que o PS agiu de acordo com aquilo que considera ser o sentimento da maioria dos portugueses.
“Algum português deseja eleições ou uma crise política nesta altura? Algum português queria que o Governo encontrasse uma desculpa no voto do PS para não cumprir com as suas obrigações e com os compromissos que assumiu com as portuguesas e os portugueses?”, questionou.
A terminar, deixou um aviso claro a Luís Montenegro: “O que dissemos ao primeiro-ministro é que tem, neste momento, mais um ano para mostrar aquilo de que é capaz. Ao fim de um ano, vamos avaliar como é que este Governo executa e se compromete com os compromissos que assumiu”.
Para já, a avaliação do líder socialista é inequívoca: “o Governo tem um desempenho medíocre”, afirmou José Luís Carneiro, evidenciando o desfasamento entre as promessas feitas e a realidade da execução.
“Apresentou vários planos — na Saúde, com 54 medidas, apenas 14 foram executadas; na Economia, das 60 medidas anunciadas, cumpriu 19; na Administração Pública, das 15 previstas, apenas 2; e na Habitação, de 30 medidas, concretizou 10”, enumerou, concluindo que o balanço é revelador da falta de capacidade que o executivo de Montenegro tem demonstrado para transformar compromissos em resultados.