Presidente do Eurogrupo envergonha a Europa e não tem condições para permanecer no cargo
Falando à margem da segunda edição do Football Talks, encontro que decorre no centro de congressos do Estoril até ao próximo dia 24 de março, António Costa reagiu às declarações do ainda presidente do Eurogrupo, declarando que afirmações como as que proferiu Dijsselbloem em nada contribuem para fortalecer e “credibilizar o projeto comum” europeu, sugerindo o seu afastamento da presidência daquele organismo.
O primeiro-ministro reagia às declarações de Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês que, numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, acusou os países do sul da Europa de “gastarem todo o dinheiro em mulheres e álcool e, depois, vêm pedir ajuda”.
Para António Costa, são declarações como estas que ajudam a estimular o desenvolvimento do caldo de cultura do populismo que se vê crescer em muitos países da União Europeia, considerando que “numa Europa a sério”, Jeroen Dijsselbloem “já estava demitido”, porque é “inaceitável”, sublinhou, que uma pessoa que tem um comportamento como ele teve, com uma “visão xenófoba, racista e sexista” sobre parte dos países da União Europeia, possa exercer funções de presidência de um organismo como o Eurogrupo.
Segundo o primeiro-ministro, a unidade que se quer e se pretende entre todos os países da União Europeia constrói-se com aqueles que acreditam na “igualdade entre os povos europeus” e defendem o respeito pelo “esforço de grande unidade” e não “estigmatizando uns contra os outros”, lembrando a propósito que Portugal está a “honrar as suas obrigações” e os compromissos que estabeleceu com as instâncias europeias, pelo que o país, como aludiu, “não tem lições a receber do presidente do Eurogrupo em coisa nenhuma”.
Perante as declarações infelizes e inaceitáveis do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, António Costa exige um pedido de desculpas claro, relativamente a “todos os países e povos que foram profundamente ofendidos”, considerando contudo “inaceitável” que ainda se mantenha em funções.
Recorde-se que no início deste mês de março, durante uma cimeira em Bruxelas, por ocasião da reeleição do presidente do Conselho Europeu, o primeiro-ministro, António Costa, já se mostrava favorável a uma mudança “rápida” na liderança do Eurogrupo, tendo na altura afirmado a sua satisfação pela permanência de Jean-Claude Juncker e de Donald Tusk, respetivamente nas lideranças do Comissão Europeia e do Conselho Europeu, “duas mais-valias”, como classificou, defendendo que, com a “rápida mudança” da presidência do Eurogrupo, um novo presidente seja “capaz de dar um sinal positivo para a construção dos consensos que são essenciais para podermos ter uma zona euro mais estável e que seja um fator de união entre todos os países da zona euro”.
Dijsselbloem deve pedir demissão
Sobre este assunto, também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, já se tinha ontem prenunciado a partir de Washington, onde se encontra em trabalho, pedindo o afastamento do presidente do Eurogrupo pelas declarações que fez em relação aos países do sul da Europa e por Jeroen Dijsselbloem se ter recusado a pedir desculpas pelas suas afirmações.
Para o chefe da diplomacia nacional, é hoje claro para todos que Dijsselbloem “não tem nenhumas condições para permanecer à frente do Eurogrupo”, no que é seguido pelo líder do grupo parlamentar dos socialistas no Parlamento Europeu, o italiano Gianni Pittella, que acusou o ainda ministro das Finanças holandês e líder do Eurogrupo de ter feito comentários “discriminatórios, vergonhosos e chocantes” para com os países do sul da Europa, declarações que considerou “não terem desculpa” e de não haver “nenhuma razão” para que se use este tipo de linguagem.