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Portugal precisa de um governo moderado

Portugal precisa de um governo moderado

Portugal precisa de um governo moderado para reconstruir o tecido institucional e social que quatro anos e meio de radicalismo, entre 2011 e 2015, romperam perigosamente.

Opinião de:

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Só tornando a respeitar a Constituição e a honrar os compromissos do Estado com os pensionistas é que podemos restaurar a confiança nas instituições e nos contratos. Deixando de confundir desemprego com preguiça e proteção social com caridade é que podemos voltar a confiar no Estado Providência. Não é possível cuidar da autoridade do Estado se continuarmos a humilhar as chefias militares, a desaproveitar a estrutura diplomática, a nomear a bel-prazer sequazes e parceiros de blogue para altas funções públicas, a fazer de conta que fazemos concursos para depois impor os amigos. Não é possível atrair investimento qualificado se vendemos ao desbarato as empresas públicas e oferecemos vistos e regalias a quem apenas compra imobiliário. Poderia continuar indefinidamente. O ponto é este: é preciso acabar com o fanatismo ideológico, o preconceito, o experimentalismo, o radicalismo de quem quis romper, e rompeu, em áreas críticas, como na educação e na ciência, consensos laboriosamente construídos na democracia.

Portugal precisa de um governo moderado para enfrentar a situação muito difícil em que se encontra. O equilíbrio das contas públicas está por atingir: o défice orçamental de 2014 foi superior a 7% e o do primeiro semestre chegou próximo dos 5%; a dívida pública não parou de subir; o crescimento económico é anémico; o sistema bancário continua à beira do precipício. A direita achou e acha que o único caminho da consolidação orçamental é castigar a economia e tirar rendimento às pessoas. Viu-se no que isso dá. É preciso menos ideologia e mais realismo na condução da política orçamental, de modo a que se combinem o estímulo da economia por via da oferta e o estímulo da economia por via da procura.

Portugal precisa de um governo moderado para defender os interesses nacionais no quadro que melhor os serve, isto é, a União Europeia, a NATO e a CPLP. Um governo que recuse aventureirismos e golpes de bravata, mas aposte numa negociação séria, com oferta de garantias credíveis aos nossos parceiros e aliados e construção conjunta de soluções que a todos sirvam. 

Portugal precisa de um governo moderado para voltar a unir a sociedade portuguesa. Ela está hoje dividida, como mostra o resultado eleitoral. E a estratégia da direita, desde que finalmente percebeu que havia perdido a maioria absoluta, tem sido de cavar ainda mais as divisões. Mas o país precisa do contrário, precisa de mais diálogo e menos confrontação. Um governo moderado é o único capaz de liderar essa nova etapa.

Portugal precisa que a esquerda apoie um governo moderado e a esquerda precisa de demonstrar ao país que sabe construir e apoiar duradouramente um governo moderado. Precisa de mostrar pela prática quão injusta é a acusação, hoje tão propagada, de que apenas traz instabilidade e que continua presa dos idos de 1975. Um governo moderado apoiado pela esquerda e uma esquerda comprometida com esse apoio são a única maneira de concluir com êxito o processo que o 4 de outubro iniciou: a plena integração de todos os portugueses no sistema democrático europeu.