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Portugal perdeu um príncipe da democracia

Portugal perdeu um príncipe da democracia

A morte chegou de noite. António Almeida Santos deixou-nos ontem, um pouco antes da meia-noite, na sua casa em Oeiras, a escassos dias de completar 90 anos. Presidente do Partido Socialista durante 19 anos, de 1992 a 2011, cargo que continuou a desempenhar a título honorário, Almeida Santos, na opinião do primeiro-ministro António Costa, foi alguém que “deu sempre tudo do melhor que sabia à política e à democracia”.

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Portugal perdeu um príncipe da democracia

Portugal perdeu um “príncipe da sua democracia” e os “socialistas uma perda irreparável”, afirma o PS em nota distribuída à comunicação social, manifestando profunda consternação e choque com a notícia da morte do “nosso querido camarada”.

Combatente desde sempre pelos valores da democracia, nos tempos da ditadura e depois de 25 de abril de 1974, António de Almeida Santos granjeou a admiração e o respeito, não apenas de amigos e camaradas, mas também dos adversários políticos, lembra o PS, graças à “enorme elevação e ao humanismo sempre demonstrados no exercício dos mais variados cargos públicos que desempenhou ao longo da sua vida tão preenchida e ativa até ao fim”.

Em Cabo Verde onde se deslocou em visita oficial, António Costa, depois de lembrar “o amigo e camarada”, definiu Almeida Santos como “um homem extraordinário” e figura ímpar da “história do PS” e um dos principais protagonistas da política portuguesa nas últimas cinco décadas”.

Um homem extraordinário que nunca virou a cara à luta

António de Almeida Santos foi um terrível adversário da ditadura, também na defesa dos presos políticos, designadamente em Moçambique, onde viveu durante 21 anos, tendo aí iniciado a sua atividade política integrando o grupo de democratas que se opunham à ditadura do Estado Novo e à colonização.

Representante em Moçambique da candidatura à presidência da República do general Humberto Delgado, foi por duas vezes candidato à Assembleia Nacional em listas da oposição ao regime salazarista, mas em ambas as vezes viu a sua candidatura anulada pela administração colonial.

Depois do 25 de abril foi um dos mais distintos parlamentares, não só pela sua invulgar capacidade tribunícia, mas sobretudo pela sua enorme cultura cívica e política. Foi deputado, presidente do grupo parlamentar do PS, ministro dos quatro primeiros governos provisórios, ministro da Justiça do primeiro Governo Constitucional liderado por Mário Soares, ministro-adjunto do primeiro-ministro no segundo Governo Constitucional, ministro de Estado e dos Assuntos parlamentares no Governo do Bloco Central e, mais tarde, um dos mais notáveis presidentes da Assembleia da República, entre 1995 e 2002, cargo que moldou como ninguém.

Enquanto jurista de exceção e obreiro de uma parte substancial da malha legislativa no alvor da democracia portuguesa, Almeida Santos, “sem abdicar da firmeza das suas ideias”, como salienta o PS, foi um dos principais artífices da construção do Estado democrático em Portugal, tendo ainda desempenhado um papel crucial nas negociações com os movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas com vista à sua independência.

A Comissão Permanente do Partido Socialista deu instruções para que a bandeira do PS seja colocada a meia-haste nas sedes do PS até ao final das cerimónias fúnebres do presidente honorário, no dia de amanhã.

Cerimónias fúnebres

O corpo de António Almeida Santos estará em câmara ardente na Basílica da Estrela a partir das 17 horas de hoje, dia 19 de janeiro. As cerimónias fúnebres estão marcadas para o dia de amanhã, saindo o funeral às 13 horas para o Cemitério do Alto de João, onde o corpo será cremado.

A partir das 14h00 de hoje encontra-se aberto um livro de condolências na Sede Nacional do PS, no Largo do Rato.