Portugal como história de sucesso nas políticas da toxicodependência
Num artigo que saiu a 22 de setembro no The New York Times (Sunday Review), Nicholas Kristof faz a comparação entre os resultados, passados quinze anos, da estratégia portuguesa com a diametralmente oposta americana. E diz-nos que, se os EUA conseguissem aquilo que Portugal conseguiu, salvariam uma vida de 10 em 10 minutos, ou seja, fazendo as contas, quase tantas pessoas como aquelas que morrem de acidentes de viação e de armas de fogo.
Nesta reportagem, refere Kristof que, “só no ano passado, morreram de overdose perto de 64.000 americanos, quase tantos como os que morreram no conjunto das guerras do Vietname, Afeganistão e Iraque”. Ou seja, aproximadamente 312 por cada milhão de habitantes, com idades entre os 15 e os 64 anos. O valor correspondente para Portugal é de seis por cada milhão, o mais baixo dos países da Europa ocidental, número esse 85% abaixo do que era antes da estratégia ser implementada.
O impacto na luta contra a SIDA também foi enorme. Em 1999, Portugal era o País na União Europeia com a maior taxa de infeções de VIH toxicodependentes; desde então, o número de diagnósticos do mesmo tipo de VIH diminuiu mais de 90%.
Ainda me lembro dos prognósticos das alas mais conservadoras do nosso País nessa altura; de que Portugal se tornaria na Meca dos toxicodependentes não só europeus como mundiais; que a criminalidade se agravaria; que a percentagem de jovens toxicodependentes aumentaria; e que seríamos condenados por todos os governos responsáveis por esse mundo fora.
Hoje somos dados como exemplo de sucesso. Porque já passou tempo suficiente para podermos validar as políticas altamente controversas adotadas em 2001. Não só em termos sociais e de saúde pública, mas também económicos e humanos.
Portugal deixou de tratar os toxicodependentes como criminosos, e passou a tratá-los como quem precisa de ajuda. Hoje, são muitos os países que querem aprender connosco. Kristof também refere que foi o atual Secretário Geral da Nações Unidas, António Guterres, quem governava Portugal em 2001. E eu relembro que era nosso Presidente da República Jorge Sampaio, e que teve de enfrentar acusações duríssimas nos inúmeros debates internacionais sobre a toxicodependência.