Podemos não controlar o vento, mas podemos controlar a direção das velas
Por cá, todavia, o patrão dos patrões afirma a plenos pulmões que é preferível ter precariedade do que estar desempregado. Tal como Isabel Moreira afirmou, “Não quer ir mais longe nessa lógica estafada? Assim por exemplo: ” mais vale receber comida como salário do que passar fome”. Ou : ” mais vale ter um quartinho no local de trabalho e trabalhar sem salário do que ser escravo?”. Vamos continuar o raciocínio ou vamos tentar saber o que é trabalho digno?
Tal como o vento molda a paisagem e a natureza, a idade deveria moldar a inteligência e o bom senso. Neste caso específico estamos perante o natural funcionamento e pensamento dos nossos “patrões”. Mão-de-obra barata, pessoas desesperadas, pessoas sem ambição, pessoas sem liberdade é o ideal de muitos dos nossos patrões. O medo e a intimidação psicológica são o alimento e o oxigénio de algum patronato. Alguns patrões acham que dar formação aos seus funcionários é caro e não percebem que a não-formação ainda sai mais caro. Os resultados estão à vista no nosso tecido produtivo. Os humanos são seres de afetos…
A maior parte dos nossos patrões são egoístas, antiquados, desvalorizam o trabalho e maldizem o dia em que foi obrigatório um salário, férias, descanso etc. No mundo atual, sem dinheiro não vivemos, sem princípios somos meros mercadores…
O patrão dos patrões mostrou o verdadeiro pensamento que singra em alguma da direita liberal e provou que afinal existem verdadeiras diferenças entre a social-democracia e a política da precariedade, do medo, do desespero, da esmola e do caciquismo.
Num estudo recente, Portugal encontra-se em 94.º lugar entre 157 países no ranking da felicidade, nada de que me orgulhe ou me deixe feliz. Importa explicar quais os fatores que os investigadores tomam em consideração para definir o índice de felicidade de cada país. Ao todo, são seis: o PIB per capita, ou seja, a riqueza por pessoa, a expetativa de anos de vida saudável, o apoio social da comunidade, a confiança – medida através da perceção de corrupção -, a liberdade para tomar decisões e ainda a generosidade. Portugal encontra-se atrás de países como o Suriname, Turquemenistão, Somália, Paquistão e o Líbano. A Costa Rica, por exemplo, apresenta-se em 14.º lugar, muito, muito à frente de países extremamente mais ricos, mas surge como um exemplo de uma sociedade feliz e saudável, não necessitando para isso de ser uma potência económica. Será que existem palavras para aferir o que isto significa? Seremos assim tão míopes em relação ao que nos rodeia? Deste estudo podemos retirar que uma sociedade que persegue unicamente o lucro persegue as coisas erradas. A nossa sociedade está a deteriorar-se, tal como a confiança social e nos eleitos.
Razão tem Sachs: “Quando os países prosseguem única e exclusivamente objetivos individuais, tais como o desenvolvimento económico em detrimento dos objetivos sociais e ambientais, os resultados podem ser altamente adversos para o bem-estar humano, e até mesmo perigoso para a sobrevivência”. A conclusão é óbvia: ” Nos últimos anos, muitos países têm alcançado um crescimento económico à custa de crescentes desigualdades sociais e danos graves no ambiente”.
Veja-se o exemplo do Dr. António Mexia, que afirma ser absolutamente contra que uma empresa que tem de lucro mil milhões pague a tarifa social. Ainda em relação à EDP, recordo o título de um órgão de comunicação social há poucos dias: “Estado Chinês ganha 400 mil euros por dia na EDP.” Será isto normal? Será isto ético? Será isto que queremos para o futuro dos nossos filhos? Privatizar, privatizar a todo o custo e sem olhar a meios e sem ponderar as consequências? Privatizar mesmo que dê lucro, mesmo que seja estratégico, mesmo que seja indubitavelmente pedra angular do nosso desenvolvimento coletivo?
A Social Democracia não está em quem a apregoa ou em quem a usa em slogans… está em quem a pratica todos os dias.