“O PS celebra o 25 de Abril, que é a data maior, e comemora o 25 de Novembro, considerando este último um acontecimento que restabeleceu o projeto democrático inicial do primeiro: construir, em Portugal, uma democracia pluralista e europeia, uma sociedade aberta e um país justo e solidário”, sustentou Marcos Perestrello na sessão solene evocativa do 50.º aniversário do 25 de Novembro de 1975, no Parlamento.
Sobre esta sessão solene, o socialista considerou “péssima a ideia do Governo de comemorar o 25 de Novembro nos termos e nos modos em que o faz”, afirmando tratar-se de “um plano que intenta fazer uma apropriação mistificadora e manipuladora de um acontecimento histórico, mais própria de regimes não democráticos que tentam controlar e impor a sua versão do passado para, como mostram George Orwell e Milan Kundera, controlar o presente e o futuro”.
Num ataque à decisão do Executivo de Luís Montenegro, Marcos Perestrello acrescentou que “a maneira ilegítima como o Governo, com a maioria que o apoia, quer apropriar-se do 25 de Novembro, instrumentalizando-o, constitui mais uma ação de subordinação à extrema-direita saudosista, que na verdade o que quer é encontrar um pretexto para negar o 25 de Abril”.
25 de Novembro não foi um acontecimento isolado
“O 25 de Novembro de 1975 foi um confronto militar que culminou um vasto e ativo movimento de resistência civil à perversão totalitária do 25 de Abril”, salientou o deputado, que lembrou, “com louvor e gratidão”, no plano militar, os nomes de Ramalho Eanes, Jaime Neves, Pires Veloso, Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vítor Crespo.
“A todos, o povo português expressou o seu reconhecimento e reforçou a legitimidade quando, nas eleições presidenciais do ano seguinte, elegeu o General Ramalho Eanes Presidente da República”, apontou Marcos Perestrello, que esclareceu que “o povo português deixou claro que queria o seu destino decidido pela legitimidade democrática”.
Reafirmando que “o 25 de Novembro não foi um acontecimento isolado”, o parlamentar defendeu que o significado político desta data se prende com “uma vitória da democracia e da liberdade sobre os projetos revolucionários vanguardistas que tinham posto o país à beira da guerra civil”.
“Representou uma vitória do PS e dos democratas que se lhe juntaram sobre as forças não democráticas de esquerda e também de direita. Não foi, como agora se quer fazer crer, uma vitória da direita sobre a esquerda, até porque, tal como a esquerda não democrática foi derrotada, também a direita não democrática sofreu uma pesada derrota ao ter sido impedido o regresso ao passado, a ilegalização do PCP e proibidas depois na Constituição as organizações fascistas”, vincou.
Citando Mário Soares no seu livro “Portugal: Que Revolução?”, publicado em 1976, Marcos Perestrello declarou que, “de uma só vez, o 25 de Novembro sufocou as veleidades suicidas da extrema-esquerda e cortou as vazas à extrema-direita”.
“É por isto que, para o PS, a comemoração do 25 de Novembro é inseparável da celebração do 25 de Abril, cujo espírito e programa originários o 25 de Novembro repôs e restituiu”, indicou.
Data não pode ser adulterada para fins políticos
No seu discurso, Marcos Perestrello lamentou os “tempos sombrios” em que vivemos, “em que a mentira, a manipulação e a mistificação políticas são usadas como armas no ataque à democracia” e considerou ser “imperioso que os democratas não pactuem com esses métodos e se oponham frontalmente à ofensiva deste ‘vale tudo’, exigindo a verdade histórica dos acontecimentos e a sua interpretação fidedigna”.
“É assim que o 25 de Novembro deve ser comemorado, naquilo que foi e naquilo que representou e representa – e não na sua adulteração, ou mesmo contrafação, para fins políticos atuais, moralmente inaceitáveis e historicamente ilegítimos”, concluiu.