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Os vídeos do primeiro-ministro

Os vídeos do primeiro-ministro

A iniciativa do primeiro-ministro de se dirigir diretamente aos portugueses a explicar o orçamento do Estado em vídeos de curta duração, disponibilizando-os no sítio oficial do governo e no YouTube, é uma boa ideia.

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De facto, os partidos políticos, incluindo o PS, bem como os governos e a Assembleia da República, incluindo os deputados, não têm explorado as potencialidades dos novos media, usando-os para noticiarem as suas atividades e para emitirem opiniões sobre assuntos que lhes interessam, porém de forma casuística e sem uma estratégia de interação com os cidadãos, limitando-se na generalidade dos casos a replicarem nas redes sociais formas tradicionais de comunicação.

Os vídeos de António Costa têm a vantagem de permitirem uma comunicação sem mediação dos jornalistas, o que, naturalmente, não impede estes de os analisarem, interpretarem e fazerem a “prova dos factos”. A sua curta duração evita ou diminui montagens deturpadoras do seu conteúdo. Por outro lado, qualquer cidadão pode ter acesso direto e em qualquer momento à informação sem depender das escolhas editoriais dos media tradicionais.

É um bom sinal que o governo não descure a vertente comunicacional, que é hoje essencial tanto aos governos como às empresas. Deve, porém, definir uma estratégia de curto, médio e longo prazo, evitando ações casuísticas e não concertadas de membros do governo, sobretudo dos menos experientes no contacto com os jornalistas. A iniciativa de enviar ministros por todo o país para contactos com militantes do PS abertos aos jornalistas, correrá menos riscos se for deixada aos governantes membros do partido.

Como se viu no aproveitamento que o comentador Marques Mendes fez na SIC da notícia do Diário do Minho, em que o ministro da Economia é citado como admitindo cortar um subsídio aos funcionários públicos, é necessário estar atento às perguntas “armadilhadas” destinadas a obter efeitos em títulos vistosos ou alarmistas. Muitas vezes, as perguntas dos jornalistas valem por si mesmas e uma hesitação ou uma resposta “ao lado” são tidas como a confirmação da pergunta do jornalista. Não é inocente que Marques Mendes tenha levado essa notícia ao seu comentário televisivo e tenha exigido um “desmentido imediato” do governo. Como político experiente que é, o ex-líder do PSD sabia perfeitamente que citando-a na SIC a notícia teria a visibilidade que não teve no Diário do Minho e que o seu pedido de um desmentido do governo chamaria ainda mais a atenção para ela.

É, pois, essencial que o governo organize a sua comunicação sem receio de ser por isso acusado de pretender controlar a informação. A comunicação estratégica é hoje um instrumento de gestão seja na política ou nas empresas. Comunicar não é falar por falar, é ter coisas para dizer no momento em que podem e devem ser ditas.

António Costa percebeu que era necessário explicar com transparência e numa linguagem simples o orçamento de Estado, contrariando a desinformação e a manipulação dos números espalhadas pela direita em jornais, rádios, televisões e redes sociais. Se forem usados com rigor, nos momentos certos e sobre temas-chave, os vídeos do primeiro-ministro podem tornar-se uma marca deste governo.