OS ENGULHOS DO PSD
Como se não lhe bastassem os disparates que tem dito e as diatribes que faz, o líder do PSD diz, agora, com uma total leviandade, que vamos ter uma nova crise, não sabe é quando. Talvez por isso, Carlos César tenha salientado, ainda no conclave dos jovens socialistas, que quem mais oposição à oposição faz é a própria oposição! Os sinais de desorientação no PSD são, com efeito, por de mais evidentes, não só por ter um líder bastante fragilizado, com a questão da sua sucessão já aberta, e com um discurso que é o retrato das suas limitações intelectuais, mas também pelas próximas autárquicas, onde o partido parece andar à deriva, sem rei nem roque.
Passos Coelho não faz mais do que confirmar o que escrevi um dia sobre o discurso dos barões do PSD – ambíguo, contraditório e de uma falta de clarividência espantosa. A sua sucessão conheceu novo episódio, quando, no domingo, Jardim, em entrevista ao Público, pediu a cabeça de Passos, acusando-o de arrastar o PSD para a direita. Chegamos ao ponto ómega. O PSD só foi social-democrata com Sá Carneiro, Balsemão e Mota Pinto. Depois, descambou! O espaço social-democrata, que é maioritário neste país, é ocupado hoje pelo PS. O próprio António Costa já se confessou social-democrata, desde sempre, aliás. Mesmo que Rui Rio seja o novo líder, nada faz prever que o partido retome o ideário de origem, porque a sua proposta do novo imposto é claramente de direita. O PS dificilmente a aceitaria. Já escrevi, numa edição recente deste jornal, que o bloco central é mais contranatura do que o acordo de esquerda.
E como do PSD pouco ou nada há a esperar de bom, o melhor é manter a atual solução política por muitos e bons anos e cujo sucesso tem sido, quanto a mim, a causa maior da desorientação do partido de Passos, se bem que as próximas eleições autárquicas, como já referimos, também contribuam para o desnorte reinante. E por uma razão simples – a menos de um ano do sufrágio, o partido não tem ainda candidatos credíveis em Lisboa, Porto e Coimbra! Se Assunção Cristas for a solução do PSD/CDS na capital, a eleição será um passeio para Fernando Medina. A vitória deste parece, aliás, certa, mesmo que o PSD tenha candidato próprio. É uma questão só de números. O mesmo se diga da vitória do PS a nível nacional e também em próximas legislativas. Os ventos sopram a favor dos socialistas. A boa performance da economia é a chave do sucesso. E causa engulhos a muita gente. Lembram-se quando Guterres, no momento o português mais ilustre, dizia que a inveja era o maior defeito nacional?