OS DOIS ANTÓNIOS
A nível nacional, Guterres é aclamado por todos. Pela esquerda e pela direita. Pela opinião pública e pela publicada. Não me lembro, aliás, de uma tal unanimidade em torno de um político português. Por mérito do próprio, sem dúvida, mas que não foi suficiente em tempos idos. Reconhecida a possibilidade de êxito da candidatura, ninguém quis ficar mal na fotografia e todos fizeram um genuíno esforço para não desafinar a orquestra do consenso nacional.
António Costa é primeiro-ministro. Pela natureza do cargo, o natural é ter uma oposição robusta. É assim em democracia. Há, todavia, na sociedade portuguesa um surpreendente e inusitado consenso em relação à utilidade e merecimento da singular solução governativa liderada pelo secretário-geral do PS. Basta ler os editoriais e os artigos de opinião, abonatórios e até elogiosos, e sentir o pulsar dos portugueses para se perceber que o primeiro-ministro conseguiu derrubar as resistências dos tradicionais setores mais críticos dos governos de esquerda e ir conquistando apoiantes nos votantes de direita.
A coerência de António Costa contrasta com as incongruências de Passos e Cristas. Por diferentes razões – Passos sente-se acossado pela oposição interna e Cristas sente-se diminuída pela sua notória incapacidade política – andam desesperados e tudo fazem para dar nas vistas. Infelizmente para eles e felizmente para o país, não acertam nos diagnósticos nem nas previsões. A Passos, nem a invocação do diabo e dos reis magos tem ajudado. A Cristas, o manto diáfano da sua fantasia natalícia e a proposta abstencionista dos jotinhas populares cobriram-na de ridículo.
Apesar do desnorte da direita, graças à inovadora e eficaz geringonça e ao temperamento e bom relacionamento de Marcelo e Costa, os portugueses despedem-se de 2016 em clima de estabilidade e encaram 2017 com mais confiança e alegria.
Feliz 2017.