Os desaparecidos
Registo pelo menos três tipos de desaparecidos. O primeiro é o chamado movimento social. Tantos precários, tantos indignados, tantos “Podemos” à nossa moda que já se exprimiam com estrondo no espaço público no tempo do último governo do PS, e ainda organizaram umas poucas manifestações e “grandoladas” – e parece terem-se dissolvido no ar, agora, logo agora, que é real e efetiva a possibilidade de operar a mudança política! Quem compara o clima social em que decorrem estas eleições com, por exemplo, o de 2011, não pode deixar de espantar-se com o silêncio e a ausência daqueles que, noutros momentos, se arvoraram a eles próprios no verdadeiro “protesto social”.
O segundo tipo de desaparecidos são as ações políticas dos partidos que costumam reservar para si mesmos a nobre qualificação de esquerda. Do PCP, para além da repetição quase diária de que PS e PSD seriam iguais, pouco mais se ouve do que afirmações rituais e burocráticas para marcar o ponto. A antiga energia transbordante do BE parece ter-se nos combates de antanho – e de braço dado com a direita – contra os governos socialistas. As outras forças continuam a falar apenas para o círculo muito estreito dos seus apaniguados e das suas desavenças.
O terceiro grande desaparecido é o jornalismo dito de investigação e a sua autoproclamada função de contrapoder. A agenda governamental – inaugurações e nomeações em pleno período eleitoral, visitas a isto e aquilo, maquilhagem de números, muita falinha mansa – passa no geral das televisões, das rádios e dos jornais sem nenhuma espécie de distância e escrutínio crítico. Quando não passa, passa futebol.
Esta desvitalização do espaço público, da extrema-esquerda e do dito “movimento social” dá bastante que pensar. Mas devo dizer que nem me surpreende, nem me assusta. Qualquer pessoa atenta sabe que, nos momentos críticos, nos momentos das escolhas sérias e com repercussões, quem fica frente a frente é a direita, de um lado, e a esquerda democrática, do outro. Também agora vai ser assim. E os eleitores que querem uma alternativa sólida e prática à direita sabem que, para que essa vontade se concretize, só têm uma escolha: escolher o PS.