Oportunidade perdida
A União, liderada por medíocres conservadores, uma Comissão ingovernável, a braços com problemas que não previu e não sabe resolver como a crise dos refugiados ou a falta de receitas próprias, recusa o golpe de asa que mais uma vez demonstrou a capacidade regenerativa da economia norte americana. Incapaz de uma política que imponha as vantagens comparativas do conhecimento e inovação perante os BRIC e outros, irá enfraquecer ainda mais com a chantagem “a posteriori” que os britânicos lhe irão impor. Eles continuarão a sugar-nos até ao tutano nos dinheiros do Horizonte 2020, desfigurarão os tratados conforme as suas conveniências, descartarão os valores morais do modelo social europeu para seguir os seus e aproveitarão até ao limite as vantagens do mercado único.
Tudo seria diferente se no Reino Unido vencesse o não à Europa. Teríamos mais leveza para reformar as instituições, talvez viéssemos a convencer os governos do necessário relançamento da economia, em vez de deixarmos o trabalho todo às costas de Mário Draghi. Seríamos aliviados do “cheque britânico”, concentraríamos o investimento científico nos países mais inovadores do Continente e o Parlamento deixaria de ouvir o anedotário teatral do Sr. Nick Farage e do seu ódio racial, anticontinental e isolacionista. Ao longo de décadas tolerámos as diatribes dos britânicos antieuropeus, mas havia dinheiro para vestir e enfeitar os bobos. Agora acabou e os bobos multiplicaram-se com os extremistas húngaros, polacos e outros. Não há mais pachorra para oferecer a outra face depois de a primeira ser esbofeteada.
Se o Reino Unido saísse da União o pequeno e dependente país que somos ainda teria uma outra oportunidade: pensar o seu grito de evasão. Pensar, isto é, considerar a hipótese, estudar prós e contras. Não seríamos certamente os únicos e alguns outros, quatro a cinco vezes maiores que nós, não desperdiçariam a ocasião para questionar todo o modelo da União. Se o Reino Unido saísse, criava-se ocasião para reapreciar erros recentes. Reuniríamos as energias que hoje nos falecem para questionar a mediocridade e falta de perspetivas das políticas anticíclicas restritivas. Seria a melhor oportunidade para não deixar Mário Draghi, sozinho na estação, à espera do comboio alemão que não se move.