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OLHAR EM FRENTE

OLHAR EM FRENTE

Os portugueses votaram. A democracia funcionou, ainda que a abstenção, ao contrário do que chegou a parecer, tenha sido superior a 2011. Quem se demitiu de votar não se deve mais tarde queixar. Embora a maioria dos portugueses tenha votado contra a austeridade e rejeitado as políticas do atual governo – aumento de desemprego, corte nos salários e pensões, aumento de impostos e da emigração - a coligação de direita só foi ultrapassada pela abstenção. Ganhou, ainda que tenha tido menos votos que o PSD sozinho na anterior legislatura.

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PSD e CDS coligados ficaram longe dos mais de 50% de votos e dos 129 mandatos obtidos em 2011. Pior resultado só em 2005, quando o PS conquistou a sua maioria absoluta. A PAF perdeu mais de 700 mil votos, 25 deputados e perdeu a maioria absoluta, o que faz toda a diferença. Significa que a maioria dos eleitores votou pela mudança. Um governo minoritário é obrigado a dialogar e a fazer consensos. Com uma maioria de esquerda na Assembleia da República, um governo minoritário de direita tem de perder a arrogância do passado, saber interpretar os resultados eleitorais e desenvolver uma verdadeira cultura de compromisso político. E os partidos à esquerda do PS não podem ignorar que a esmagadora maioria dos portugueses votou pela permanência na União Europeia e na moeda única. É um novo ciclo político que se inicia, em que os vocábulos governabilidade e estabilidade vão estar mais presentes no léxico político português, desejavelmente a rimar com os valores da implantação da República que hoje celebramos: liberdade, igualdade e fraternidade.

O PS perdeu as eleições, ainda que tenha conquistado mais 12 deputados e aumentado a percentagem de votos em relação a 2011 e mesmo em relação às eleições europeias de 2014. António Costa fez bem em deixar claro que vai continuar a colocar o interesse nacional acima de tudo e que não contem com ele para aventureirismos nem para deixar cair o programa com que se apresentou aos portugueses: virar a página da austeridade e travar o empobrecimento do país, consagrando um novo modelo de desenvolvimento e de consolidação das contas públicas; defender os serviços públicos de Educação, Saúde e Segurança Social e o Estado Social; relançar o investimento em ciência, inovação e cultura; respeitar os compromissos internacionais com uma atitude diferente na defesa dos interesses portugueses e por uma política reforçada de convergência e coesão. 

É preciso olhar em frente, retirando do passado os ensinamentos que ajudem a construir um melhor futuro para os portugueses. Nos momentos mais difíceis, os portugueses sempre puderam contar com o PS. No passado como no presente.

Na AR os deputados do PS, para além de defenderem os compromissos que assumiram com os eleitores, têm de denunciar as mentiras e enganos em que a coligação de direita se especializou. E não permitir que, na falta do álibi da pesada herança do passado, PSD e CDS invoquem a falta da maioria para justificar a incompetência e a incapacidade para a negociação e o consenso. Com a reconhecida habilidade de Passos Coelho e Paulo Portas para distorcerem a realidade, vão certamente recorrer à vitimização, alegando que a maioria parlamentar de esquerda não os deixa governar, para consolidarem uma nova narrativa na mira de, em eventuais eleições antecipadas, obterem a maioria. Como já conseguiram enganar duas vezes os portugueses, acham que ora vestindo a pele de lobo ora a de cordeiro os vão conseguir enganar uma terceira.