OBRIGADA, ANTÓNIO ARNAUT
Agarra no ar o verso e dá-lhe um nó
antes que o fio se perca da palavra.
António Arnaut
Conheci pessoalmente o António Arnaut na década de 80 do século passado. Estava eu a iniciar o meu tirocínio político no PS e ele era já um “senhor” no Partido e na sociedade portuguesa, mas exigiu que nos tratássemos por “tu”. A empatia foi mútua. Sendo um homem da palavra (e de palavra, como poucos), presumo que tenha apreciado a minha dedicação à causa da Língua Portuguesa que ele cultivava e amava.
Foi por essa altura que me ofereceu o seu livro de poesia “Miniaturais, outros sinais”, que acabara de publicar, dizendo-me com a simpática alegria no sorriso rasgado que o caraterizava: “tu, que és das letras, diz-me lá o que pensas dos meus versos”. Desse pequeno livro partilho aqui alguns versos que dizem muito sobre a sua relação com a escrita e, por analogia, com a vida.
“A liberdade é o que sobra/ depois da fome saciada: /fome de pão e de amor, /fome de tudo e de nada”. Liberdade que no seu exemplar percurso de vida sempre rimou com solidariedade e amizade. Liberdade era a sua respiração. Solidariedade, o seu modo de se relacionar com os outros. Amizade, uma prática diária sem fronteiras ideológicas ou políticas. Acrescente-se democracia, o seu modo de estar, socialismo, o seu modo de ser, e maçonaria, a sua responsabilidade social, e encontraremos algumas das dimensões que fizeram de Arnaut um ser singular e admirado por pessoas de todos os quadrantes.
“Ousar a palavra: /o poema não é o que se escreve, /mas o que nele se atreve”. Coragem, ousadia, inconformismo, eram igualmente atributos do pai do SNS, inestimável legado que temos a obrigação de defender e valorizar. Deve ser esse o nosso agradecimento coletivo.
“Agora que disseste adeus para sempre/ é que sei quanto dói a eternidade.”
Vamos sentir a tua falta, querido amigo. Obrigada e até sempre.
Edite Estrela