O verdadeiro fosso
O que sabemos, pelo contrário, é que a existência desses exames não só desvaloriza o trabalho e avaliação dos professores, como condiciona o seu trabalho ao longo do ano letivo. Se sem exames os professores têm hipóteses de adaptar o ritmo das suas aulas às necessidades e dificuldades que os seus alunos possam ter – não deixando ninguém para trás -, com os exames isso torna-se muito mais difícil; já não estão ali só com o seu objetivo de ensinar o melhor que conseguem, mas numa corrida contra o calendário escolar para que os alunos consigam assimilar tudo a tempo de fazer os exames, bem ou mal. E aí sim ficam muitos para trás.
Infelizmente, sabemos que Portugal ainda lidera no chumbo de crianças no início do percurso escolar e que, normalmente, as crianças oriundas de famílias de classe baixa e média-baixa são as que têm resultados inferiores nas avaliações. É, por isso, fundamental que a escola e a sala de aula sejam os espaços que ajudem a diminuir essas diferenças. Todos merecem ter a atenção do professor para conseguir ultrapassar os seus obstáculos individuais e os exames tornaram-se um maior do que qualquer outro.
O fosso que ainda existe pode e deve ser diminuído. No entanto, não é com exames que o conseguiremos fazer, como os resultados (ou a falta deles) o demonstram. Eles foram uma restrição que agravou a qualidade do ensino em Portugal nos últimos anos e não merecem ser tratados com a reverência com que foram no século passado, quando se achava que as crianças apenas adquiriam conhecimento e tinham mérito se fossem a eles submetidos desde pequenas. Isso é falso e não é a mentalidade para a qual devemos ensinar os jovens.
Quem defende que a escola pública deve ser para promover a igualdade de oportunidades e lutar contra a exclusão e diferenciação desde cedo, não pode concordar com a existência desses exames. Por respeito aos alunos, às famílias e aos professores. E para o bem de todos.