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O respeito que se impõe ao PS

O respeito que se impõe ao PS

Nos dois anos seguintes a ter cessado funções no Ministério da Administração Interna, acordava, não raras vezes, com o pesadelo dos incêndios florestais. O psiquiatra que me seguiu dizia que os meus sintomas eram semelhantes aos do srtess de guerra depois de tanta área ardida, dos mortos que se verificaram e das situações penosas que vivi.

Opinião de:

O respeito que se impõe ao PS

Sei bem, por experiência própria o que passaram os governantes que cessam. Uma palavra amiga a Constança Urbano de Sousa e a Jorge Gomes. 

Também sei que existem dois universos em situação de crise. Um primeiro é da opinião publicada, sempre disposta a fazer sangue a fazer acelerar a História. O outro o da decisão fria, competente, à altura. É exatamente por isso que compreendo a opção pela palavra responsabilidade e pela observação interior, intima, da palavra compaixão. Teria sido muito mais fácil a proclamação do pedido de desculpas, mas entendo bem porque não foi esse o caminho. 

Os grandes lideres que ficaram nos anais não são conhecidos pela exteriorização dos sentimentos. Essa prática é meio caminho andado para a folga dos sistemas, a disfuncionalidade das máquinas de resposta.  Por isso me revelei profundamente contrário à ida sistemática do Presidente da República aos teatros das operações, mesmo que para “dar uma palavra amiga”, porque em situação de guerra cada comandante deve saber como se deve comportar. 

Há dois níveis de preocupação que me assaltam por agora. O primeiro é o que se refere ao governo. O chefe do governo escolheu bem. Eduardo Cabrita tem experiência, tem conhecimento da realidade do país e observa a ponderação justa para comportar novas formas de articulação política e institucional. Mas a António Costa vai caber a determinação das linhas de interconexão governativa para que se faça, a cada tempo, o que se impõe. Cabrita vai ter que ser autorizado a ter mau-feitio, vai ter que negar reunir com pessoal menor para elevar as suas orientações a marechais de campo, vai ter que ser ministro dos ministros. O primeiro ministro sabe bem disso. Aliás, não há ninguém, em Portugal, que conheça melhor o que falhou. 

O segundo nível é o do PS. Ao grupo parlamentar cabe a mobilização necessária para encontrar os apoios certos a uma profunda mudança nas prioridades que se impõem. Passa pelos parlamentares, en ce moment, o reforço das relações de confiança com as populações, com as comunidades mais frágeis. 

Mas compete também ao PS estar à altura do tempo. É por isso que se nega a vantagem de convocação dos órgãos do partido para a discussão do período que passou. Só um partido suicida substitui o trabalho para as soluções pela conversa fiada do apurar de culpas. Ao PS cumpre apoiar, como nunca, o governo. Ao PS importa ser o esteio forte da liderança dupla do governo e do partido. 

Nós não podemos estar aqui para acertar pequenas contas. Devemos estar aqui para assumir uma leitura de sociedade e uma obrigação de país que formatam quase cinco décadas de história do PS.