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O PR, o Governo e o PS

O PR, o Governo e o PS

Opinião de:

O PR, o Governo e o PS

1. Há quem nos diga, pelas notícias da manhã, que o governo terá ficado boquiaberto com a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa sequente aos grandes incêndios e à comunicação ao país do primeiro-ministro. O governo pode ter ficado admirado, mas, como não é constituído por naïfs, terá encontrado, também, as razões de tal ter acontecido.

Adivinhamos que o Presidente da República soubesse, tim-tim por tim-tim, o que se iria passar, as medidas que seriam aprovadas em conselho de ministros, a previsível alteração do elenco governativo. Não é necessária habilitação especial em matéria da coisa política para decifrar a permanente consulta entre presidente e governo, a troca sistemática de informação entre Belém e S. Bento.

Marcelo ficou colocado na situação de ter que falar ao coração dos portugueses. E fê-lo. Ainda bem que o fez, porque a sua intervenção serviu para acomodar sentimentos, para parar a revolta e a sensação larvar de desproteção.

Talvez por isso, não seja interessante conhecer mais sobre os últimos dias, talvez seja relevante ponderar e acalmar, resolver e seguir em frente, conceder carinho e atenção. Tudo o resto é nefasto.

Quando eu digo que Marcelo sabia de tudo, que tinha consciência do plano que se seguiria, fundo esta minha certeza na forma atenciosa e carinhosa que dedicou a Constança Urbano de Sousa e a Jorge Gomes no dia em que cederam os lugares aos novos membros do governo. O PR sabe que todos os sinais são relevantes, que o que diz determina o caminho. Quando nos faz seguir para um novo tempo de governação depois da linha de política apresentada e da moção de censura chumbada, Marcelo quer que se avance e não contesta a sua atenção institucional a sua compreensão pessoal perante a realidade.

2. Há quem ache que o ‘Acção Socialista’ é um espaço dogmático, estalinista, que serve, unicamente, para levar o dogma a quem o lê. Nada de mais falso. O ASD é o espaço mais livre onde escrevi e escrevo.

Quando, em abril de 2016, critiquei o PR sobre a reunião do Conselho de Estado para análise do sistema financeiro; quando, em julho de 2016, critiquei fortemente o PR sobre a sua posição relativamente às alterações aos estatutos dos STCP e Metro do Porto; quando, em fevereiro deste ano, fiz pateada à nota do PR sobre Mário Centeno, sempre no ASD, não tive qualquer apontamento, referência ou aviso da direção do nosso jornal. Edite Estrela tem, aliás, sido inflexível na garantia de total liberdade e transparência da sua política editorial.

É por isso que não entendo o tsunami, provocado por Simões Ilharco, que terá levado a inúmeras referências na comunicação social e nas redes sociais. Mais, não entendo até a forma seca que recheou a resposta, ao tema do dia, por parte de Marcelo Rebelo de Sousa.

Talvez seja melhor deixar seguir o caminho e, sem cedências na liberdade de pensamento e de ação política, regressar à boa leitura dos poderes constitucionais e das obrigações institucionais.