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O novo “ar do tempo”

O novo “ar do tempo”

O primeiro debate quinzenal no Parlamento foi um momento privilegiado para constatar o novo “ar do tempo”. O tema escolhido pelo governo - “recuperação do rendimento"- mostrou, desde logo, que o governo estava ali para marcar a diferença.

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Sem ambiguidades nem rodriguinhos, o primeiro-ministro não perdeu tempo a anunciar as próximas medidas: atualização das pensões, reposição do complemento solidário para idosos e do rendimento social de inserção, atualização dos primeiros três escalões do abono de família, medidas sobre a capitalização das empresas e financiamento do investimento. À tarde, o Parlamento aprovou a redução da sobretaxa do IRS. Surpreendentemente, ou talvez não, e com a naturalidade de quem tem o caso estudado há muito, a propósito de perguntas sobre a crise do Banif, o primeiro-ministro anunciou um novo desenho para o modelo institucional do Banco de Portugal que considera não estar preparado para a gestão e intervenção na banca comercial. Veio à memória o BES e a inevitável comparação com a displicência de Passos Coelho e da ministra das Finanças fugindo permanentemente às suas responsabilidades no descalabro daquele banco. Já na véspera Costa mostrara a diferença, sossegando os depositantes do Banif quanto à garantia dos seus depósitos e chamando a S. Bento os partidos parlamentares para os informar e os envolver na situação – uma das “surpresas desagradáveis” a que se referiu durante as conversações com Passos e Portas antes da formação do governo, que alguns jornalistas desvalorizaram.

Mas António Costa não ficou por aqui. Em cada intervenção que fez no debate parlamentar deixou a marca de uma visão estratégica para o País quer quando respondeu a Passos, explicando-lhe porque é que é necessário parar a austeridade, quer, sobretudo, a Portas cujas picardias sobre “os camaradas” da Intersindical e do PCP, a propósito das greves anunciadas no sector portuário, levaram Costa a dar-lhe a devida resposta, confrontando-o com o “insulto” que representa para o PCP, a CGTP e o Governo, Portas pensar que eles poderiam interromper uma greve. E foi nessa altura, que o “ar do tempo” se manifestou de novo, com Jerónimo de Sousa e João Oliveira a aplaudirem entusiasticamente a resposta de Costa. A repórter da SIC não resistiu a comentar que “em tantos anos de Parlamento nunca tal tinha visto”.

A direita não está ainda preparada para o novo “ar do tempo”. Passos parece ter ultrapassado o amuo, Costa já é o “senhor primeiro-ministro”, mas ainda não assumiu o seu novo papel. Mandou dizer à imprensa que não interviria no debate parlamentar, pensando que, quando se levantasse para interpelar Costa, causaria grande impacto. Enganou-se: o “ar do tempo” mudou.