O MESMO CAMINHO, COM A MESMA COMPANHIA
Carlos César, presidente do partido, afirmara já que ” não precisamos de novos aliados, mas de todos os interlocutores.” O primeiro-ministro, que realçou os bons resultados obtidos, e que “provaram que nós tínhamos razão e eles não”, afirmou, ainda, que diziam que eram “bons alunos”, mas quem preside ao Eurogrupo é Mário Centeno.
Na realidade, o ministro das Finanças português estreou-se, também na segunda-feira, a presidir ao Eurogrupo. E segundo Moscovici, comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, o Ronaldo da economia portuguesa, como Schauble chamou a Centeno, marcou logo um golo na primeira reunião! Apresentando-se com a proposta de reforma da Zona Euro, que visa levar a moeda única a todos os países da União Europeia, Mário Centeno tem afirmado que Portugal é um dos mais importantes ‘case study’ da Europa. A presidência do Eurogrupo, por parte do nosso ministro das Finanças, suscita inveja na nossa oposição, dando razão a Costa que a condena por se irritar, em vez de se congratular, com os sucessos do país. Foi com profundo desagrado que lemos a afirmação do ‘laranjinha’ Mira Amaral de que, sem visão paroquial, não é Mário Centeno que vai mandar no Eurogrupo.
Se tivesse bem presente a triste experiência do seu correligionário Durão Barroso na Comissão Europeia, Mira Amaral não teria dito o que disse. Barroso não passou de um empregado da Merkel, coisa que Centeno nunca será! E foi para um grande banco privado, o que não antevejo para o atual ministro português das Finanças. Na tentativa de o denegrir, diz-se, também, que Mário Centeno é, para os alemães, o rosto do sucesso da austeridade. Nada mais errado, diria mesmo contraditório e absurdo. Os bons resultados da nossa economia, que levaram Centeno ao Eurogrupo, foram alcançados contra a austeridade alemã! E isto diz tudo. A nomeação de Centeno foi, como disse Joao Galamba, porta-voz do PS, o exportar do sucesso português. A política do nosso Governo, digo eu, é made in Portugal, o que só a credibiliza e dignifica.
A grande maioria dos portugueses continua a comungar do meu apreço pelo PS e sua política governamental. De acordo com a sondagem do Expresso de sábado passado, os socialistas, que estão a subir, obteriam 41, 3 por cento dos votos, contra apenas 26,9 do PSD, em eleições legislativas. À pergunta sobre se Rui Rio pode ganhar a António Costa, 58,8 por cento dizem, claramente, que não e só 25,9 que sim. Como tenho dito, a minha previsão é que o PS consiga a maioria absoluta em 2019.
As Jornadas Parlamentares foram pretexto para visitas a zonas sinistradas pelos incêndios. O primeiro-ministro presidiu à apresentação da ‘Estratégia de Recuperação do Pinhal do Rei’. E revelou, também, o que está a ser feito para ajudar a reconstruir as vidas afetadas pelos fogos florestais do ano passado. No referente aos apoios de emergência, foram disponibilizados 46 milhões de euros a agricultores e 26 milhões a empresários.
Costa deu mais boas notícias, confirmando que estão a ser pagas as primeiras indemnizações sobre a perda irreparável de vidas e reconstruídas as casas de primeira habitação destruídas. O primeiro-ministro defendeu uma floresta com várias espécies: “É preciso que este pinhal não seja só de pinheiro”. A par da reforma da floresta, a descentralização e a transparência foram outros temas das Jornadas, nos quais pode haver entendimentos com o PSD, sem que ameacem, nem sequer ao de leve, o acordo de esquerda. Costa foi bem claro: o mesmo caminho, com a mesma companhia. O líder do PS, no jantar com os deputados, afirmou:” Felizmente que temos um líder parlamentar. Não andamos à procura, nem ninguém fala nisso”. Uma farpa, entre outras, no PSD. Ou, então, a estabilidade versus instabilidade. O primeiro- ministro encontra-se, agora, em Davos, onde falou com o Presidente angolano.
O encontro, que decorreu, ontem, à margem da cimeira, confirma a normalização das relações entre Portugal e Angola, que estiveram algo conturbadas por causa do processo Manuel Vicente, mas que parecem, agora, melhor do que se julga, se tivermos apenas em conta o alarido mediático, por vezes desajustado da realidade. E estão já situadas ao nível que devem sempre estar – Estado a Estado. O nosso primeiro-ministro, falando após o diálogo com João Lourenço, considerou-as “muito fraternas” e de “excelência”.
Costa foi a Davos, sobretudo para captar investidores. Este Forum Económico Mundial, na Suíça, reune 70 Chefes de Estado e de Governo – o pior de todos eles é capaz de ser Trump. Uma petição já com 17 mil assinaturas diz que não será bem-vindo e preveem-se confrontos, devido à sua indesejada presença. O Presidente dos EUA será mesmo para esquecer. E o nosso, cujo mandato faz dois anos?
Marcelo tem sabido manter boa relação com Costa e não cria grandes dificuldades ao Governo. Evidencia, porém, uma tentação presidencialista, que o faz, por vezes, invadir as competências de outros órgãos de soberania. A proximidade parece-me, sem dúvida, uma das facetas mais positivas do seu desempenho presidencial. A posição do PS sobre a recandidatura do Presidente, se ele desejar e puder avançar, claro, só será definida, penso eu, depois das legislativas. Antes disso, seria, quanto a mim, extemporânea.
Em jeito de pré -conclusão, assinale-se que Catarina Martins respondeu ao primeiro-ministro, dizendo que o mesmo caminho, com a mesma companhia, também é lema do BE. António Costa tem linguagem simples e eficaz, bastante clara, de fácil entendimento, que não precisa de ser descodificada. A política só ganha com isso. E, ainda mais, os portugueses.