O Jantar do Panteão
O jantar realizado no Panteão Nacional só existiu porque Barreto Xavier abriu as portas à sua realização, pôs a mesa e acendeu as velas: incluiu o Panteão na lista dos espaços públicos e monumentos sob a tutela da Direção Geral do Património, listando inclusivamente os preços para almoços, jantares e cocktails.
Afirmar agora, como arma de arremesso político contra António Costa, que foi “uma decisão errada e lamentável” e que “obviamente o governo atual, por uma questão de sensatez, não devia ter autorizado” o jantar para convidados da Web Summit no Panteão Nacional” é hipocrisia, ato de má-fé e contorcionismo político.
O despacho da sua autoria, datado de 2014, prevê efetivamente que a DGPC possa não autorizar eventos que ofendam a dignidade dos espaços. Pergunto: quais os jantares, almoços e cocktails que não ofendem a dignidade do Panteão? Todos. Mas a verdade é que ali se realizaram vários desde o Despacho de Barreto Xavier, e que, perante a magnitude do impacto público do Web Summit e do envolvimentos de todas as inúmeras personalidades nacionais e internacionais neste evento de impacto mundial – onde estiveram presentes desde o Secretário Geral das Nações Unidas, o Presidente da República o Primeiro Ministro de Portugal, comissários europeus, só para referir os mais institucionais, não posso deixar de compreender o dilema da diretora geral do património em acionar o seu primeiro veto perante um Despacho em vigor que nunca antes tinha sido questionado.
O que não compreendo nem aceito é a atitude de Barreto Xavier que, acossado nesta redescoberta da mercantilização da cultura do seu governo, dispara desesperado em todas as direções (acusa António Costa de “cobardia política”), atingindo o seu próprio pé quando questionado sobre a realização de um jantar de 190 pessoas no Panteão em 2013, respondendo cobardemente: “Não é normal que o Governo saiba de tudo o que se passa”.
Há que alterar de imediato o famigerado Despacho, retirar o Panteão Nacional dessa lista de festas e eventos e continuar a reorientar a política cultural no caminho do verdadeiro serviço público e do respeito pelo nosso património.